quinta-feira, 10 de junho de 2010

Revalorizar a piedade popular e educar a religiosidade popular

Revalorizar a piedade popular e educar a religiosidade popular
O Directório sobre a Piedade popular e a Liturgia (17 de Dezembro de 2001), começa por esclarecer termos que por vezes aparecem confundidos, dada a complexidade da matéria a que se referem.

Com feito, “no decurso dos séculos, as Igrejas do Ocidente foram, de muitos modos, marcadas pelo florescimento e pelo enraizamento no povo cristão  -  ao mesmo tempo e a par das celebrações litúrgicas - de múltiplas e variadas modalidades de exprimir, com simplicidade e entusiasmo, a fé em Deus, o amor por Cristo Redentor, a invocação do Espírito Santo, a devoção à Virgem Maria, a veneração dos Santos e o esforço de conversão e da caridade fraterna”. (Verdadeiro património cristão: cultural e espiritual)


Sem explicitar qualquer juízo preconcebido ou precipitado, o referido directório propõe a seguinte interpretação:

«Piedade popular designa aqui as diversas manifestações cultuais de carácter privado ou comunitário que, no âmbito da fé cristã, se exprimem predominantemente não com os módulos da sagrada Liturgia, mas através das formas peculiares derivadas do génio de um povo ou de uma etnia e da sua cultura.
A piedade popular, justamente considerada um «verdadeiro tesouro do povo de Deus», «manifesta uma sede de Deus que só os simples e os pobres podem conhecer; torna-os capazes de generosidade e de sacrifício até ao heroísmo, quando se trata de manifestar a fé; comporta um sentido apurado dos atributos profundos de Deus: a paternidade, a providência, a presença amorosa e constante; gera atitudes interiores raramente observadas noutro lugar no mesmo nível: paciência, sentido da cruz na vida diária, desapego, abertura aos outros, devoção».
(Religiosidade popular refere-se a uma experiência universal, tanto no coração de cada pessoa, como na cultura de cada povo e nas suas manifestações colectivas, em que está sempre presente uma dimensão religiosa... A religiosidade popular não se reporta necessariamente à revelação cristã. Mas, em muitas regiões, exprimindo-se numa sociedade impregnada, de muitas maneiras, de elementos cristãos, dá lugar a uma espécie de “catolicismo popular”, em que coexistem, mais ou menos harmonicamente, elementos provenientes do sentido religioso da vida, da cultura própria de um povo e da revelação cristã.»
Revalorizar a piedade popular é, por isso, também uma verdadeira tarefa pastoral a que as comunidades e os pastores devem dar a devida atenção e despender as necessárias energias. Para tal tarefa, o Conselho episcopal Latino-americano chamara já a atenção em 1976:só estudando a sua mais antiga origem, a sua realidade como dom do Espírito, o seu dinamismo teocêntrico, é que poderemos compreender melhor a religiosidade — não estritamente no sentido litúrgico— , o seu encaminhamento e o seu valor como acto religioso. Encontra-se, por vezes, nestas formas de piedade um profundo humanismo e um sólido cristianismo que impregnam e fazem vibrar as mais pequeninas fibras do homem — referia o então Núncio de Bogotá (depois Card. Somalo). E concluía: A sua generosidade e o seu sacrifício podem ir até ao heroísmo, quando se trata de manifestar a sua fé e comporta um sentido agudo de atributos profundos de Deus: a paternidade, a providência, assim como a presença amorosa e constante. Paciência, sentido da cruz na vida quotidiana, desapego, abertura aos outros e devoção, são outras tantas atitudes interiores que raramente se encontram nos que não possuem esta percepção.
A Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi” (Paulo VI) foi, de certo modo, o ponto de partida deste percurso. «A religiosidade popular, pode dizer-se, tem sem dúvida as suas limitações. Acha-se frequentemente aberta à penetração de muitas deformações da religião, como sejam, por exemplo, as superstições. Depois, permanece com frequência apenas a um nível de manifestações cultuais, sem expressar ou determinar uma verdadeira adesão de fé. Pode, ainda, levar à formação de seitas e pôr em perigo a verdadeira comunidade eclesial. Se essa religiosidade popular, porém, for bem orientada, sobretudo mediante uma pedagogia da evangelização, ela é algo rico de valores... A caridade pastoral há-de ditar, a todos, as normas de procedimento em relação a esta realidade, ao mesmo tempo to rica e tão vulnerável. Antes de mais, importa ser sensível em relação a ela, saber perscrutar as suas dimensões interiores e os seus inegáveis valores, estar disposto a ajudá-la a superar os seus perigos de desvio. Bem orientada esta religiosidade popular, pode vir a ser cada vez mais, para as nossas massas populares um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo. Um caminho de Missão: de nova Evangelização.
(tirado da VP)

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