quinta-feira, 9 de abril de 2009

Homilia do Sr Bispo D. Manuel Clemente





Homilia do Sr Bispo D. Manuel Clemente
Na Eucaristia Crismal - Sé do Porto - 10.00 horas dia 9 de Abril.


Homilia do Bispo do Porto na Missa Crismal

É da missão que falaremos…


Homilia do Bispo do Porto
Pela terceira vez celebramos a Páscoa juntos e sempre mais profundamente no mistério pascal de Cristo, pois só assim têm fruto e consequência os anos que somamos, os sacramentos e a vida. Concretamente, o ministério ordenado, que nesta Missa tanto agradecemos.
Retomando o Evangelho e o cumprimento em Cristo das antigas profecias messiânicas, oiçamos a conclusão, para partirmos precisamente dela: “Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: ‘Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir’”.
Amados irmãos e irmãs e em particular caríssimos irmãos sacerdotes, prestes a renovar as vossas promessas no único fundamento delas, que é o sacerdócio ministerial de Jesus Cristo, para que todo o Povo de Deus possa oferecer-se ao Pai em sacerdócio universal; aqui, na nossa catedral portucalense, nesta reunião maior do presbitério, com tão expressiva participação de consagrados e féis leigos, que a todos saúdo com muita fraternidade e apreço; agora, quando todos nos preparamos, rezando mais e precisando-a melhor, para a missão diocesana de 2010:
- É da missão que falaremos, no continuado realismo de dois milénios que ainda começam, de novo repetindo: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. É da missão que falaremos, por três alíneas: 1ª) Pela urgência pastoral. 2ª) Pela necessidade teológica. 3ª) Pela conveniência eclesial.
Devemos, antes de mais, agradecer a Deus tudo quanto a sua graça realiza nesta magnífica porção do seu povo, em tanta dedicação que o Espírito gera para a vida da Igreja e a presença cristã no mundo:
– Tantos pais e mães, tantos avós e outros parentes, que preenchem o respectivo ambiente familiar com valores evangélicos, de mútua aceitação e apoio!
– Tantos profissionais que promovem nos vários meios de trabalho a dignidade de quantos os integram!
– Tantas associações de fiéis que persistem, abnegada e criativamente, no serviço a Deus e ao próximo!
– Tantos milhares de fiéis que colaboram habitualmente na catequese, na liturgia e na acção caritativa das suas comunidades, tão exigida esta pela crise sócio-laboral que nos toca!
-Tantos consagrados/as que continuam a ser esplêndidos sinais e convites para a radicalidade dos conselhos evangélicos!
-E tantos os ministros ordenados, seculares e religiosos, que servem o Povo de Deus na Diocese do Porto, com uma dedicação que chega a ultrapassar o expectável e exigível, mas assim mesmo revela o seu carácter sobrenatural e gratuito!
É esta mesma dedicação que nos aumenta a urgência pastoral.
No último recenseamento tínhamos uma prática dominical rondando os 20%, não garantida agora.
Mas em muitas paróquias denota-se a diminuição da vida sacramental, particularmente
nos Baptismos e Matrimónios, quer por decréscimo da natalidade
quer por debilidade das convicções.
Nestes dois casos se divisa a problemática específica da nossa tradição cristã, que ou nem sempre passa para as novas gerações, ou não se concretiza em vínculos comunitários propriamente eclesiais.
Durante muito tempo, em ambiente sócio - cultural que o proporcionava, a religiosidade popular ancestral coincidia com a proposta oficial, sendo esta oficialidade tão confessional como cívica:
o reconhecimento social fazia-se pelo Baptismo,
a família constituía-se pelo Matrimónio,
as exéquias mantinham o defunto no âmbito eclesial.
Para mais, escola, profissão ou saúde, tudo conservava, em muitos lugares, o mesmo espírito e simbólica.
Assim se formalizava catolicamente todo o curso da existência pessoal, familiar e social, mesmo quando as convicções e as práticas nem sempre fossem realmente preenchidas pelo credo e as virtudes evangélicas.
Porém, de há dois séculos para cá, em termos de movimento geral dos espíritos e das práticas, as coisas foram mudando, vivendo nós hoje num ambiente em que prevalece a preferência individual e até a desconfiança em relação ao que seja herança cultural, institucionalmente sustentada.
Desta breve constatação passamos à grande dificuldade em compatibilizar a religiosidade espontânea,
por vezes reduzida à subjectividade e pouco
ou nada catequizada, com a proposta católica propriamente dita
e as exigências que coloca em termos de fé e inclusão comunitária.
Não admira, especificando mais, que algumas das situações pastorais mais complexas apareçam nesta fronteira difícil,
envolvendo, por exemplo, pedidos de sacramentos sem iniciação cristã
nem comunhão eclesial,
exigências de apadrinhamentos que não podem apoiar objectivamente a fé dos afilhados,
algumas festas ditas populares em que a referência aos Padroeiros é pretextual e ambígua, etc.
Em todos estes campos, tão irrecusáveis como a própria realidade, a verdade cristã original – essa mesma que ouvimos enunciada na sinagoga de Nazaré – tem de ser retomada, “com novo ardor, novos métodos e novas expressões”, para que o Evangelho se continue a cumprir “hoje mesmo”. Tomemos as actuais dificuldades e urgências como outras tantas oportunidades de evolução pastoral positiva, com paciente pedagogia e lucidez criativa. Seja como for, não avançaremos sem o povo, que aliás integramos; mas com ele, em conversão colectiva, a partir certamente de alguns, que sejam como “fermento na massa”. Nunca foi nem será doutro modo.
Isto mesmo nos leva à teologia, na sua acepção teórico-prática. Sem desenvolvimentos que não caberiam aqui, fixemo-nos muito brevemente em dois pontos essenciais da revelação cristã, que requerem aplicação constante no que fizermos. São eles a Trindade Divina e a Incarnação do Verbo. Na sinagoga de Nazaré, como ouvimos, era o Filho humanado que inaugurava o Reino de Deus, com a unção do Espírito. Isto é também a Igreja – a nossa Igreja diocesana – em constante “cumprimento”.
Cremos que Deus é uno e trino, uma só vida compartilhada pelo Pai e o Filho no amor do Espírito. Daqui retiramos que toda a aprendizagem cristã, para assim se chamar, tem de ter um intrínseco cariz comunitário. Deus salva-nos em Cristo, apreendido na Igreja, que o Espírito preenche e anima.
O problema e o desafio estão precisamente aqui, na prática actual desta teologia. Algo de estranho acontece, a saber, que seja hoje mesmo, quando a doutrina mais acentua o lugar fundamental da Trindade Divina em tudo o que se queira cristão, que a sociologia mais precipitada e desconexa, movimentando continuamente pessoas e grupos, tão geográfica como mediaticamente, torne assim complexa e desapoiada a (re)construção da comunidade cristã, base indispensável de acesso à comunidade divina. Tarefa realmente desapoiada e complexa, tanto como prioritária e urgente.
Entretanto, estejamos abertos e atentos a tudo quanto vai surgindo e crescendo, em termos de movimentos e grupos, em termos de trabalho interparoquial e vicarial, em termos de ligação próxima ou longínqua pela comunicação social e os seus novos instrumentos mediáticos, em termos de entreajuda de seculares e religiosos, de missionários ad gentes ou de nova evangelização local… Pressinto que passará por aqui a reconfiguração comunitária do século XXI. Como creio que a Missão diocesana de 2010 será excelente ocasião para avançarmos nesse sentido.
Em registo teológico ainda, sabemos como a revelação divina acontece em Cristo, Filho de Deus incarnado, que assim manifesta também toda a disponibilidade humana para a obra do Espírito, proclamada esta na sinagoga de Nazaré. Daqui que devamos olhar a criação e os seus dinamismos como propedêutica da nova criação que acontece em Cristo e a partir de Cristo.
Quero com isto dizer que, nos seus contactos “pastorais” - que definem agora a pastoral da Igreja – Cristo nunca negou tais dinamismos criaturais, mas tudo converteu e elevou, contrariando os egoísmos impeditivos da realização das pessoas e do mundo. Não negou a família, antes a assumiu, na Sagrada Família de Nazaré, onde não lhe faltaram Mãe, Pai adoptivo e parentes; mas alargou-a à grande família dos filhos de Deus, que cumprem a vontade do Pai. Ouvimo-lo hoje em Nazaré onde se criara, como o veremos depois a chorar sobre Jerusalém, porque a amava tanto; mas estendeu ao mundo inteiro as promessas do antigo Israel… Em Cristo, a criação reencontra o princípio, como iniciativa divina retomada; e descobre o seu fim, que é Deus ser tudo em todos, como já o é o Pai no Filho, e pelo Filho em nós, tomados pelo Espírito, tão inclusivo como expansivo.
Geralmente, procuravam Cristo por necessidades imediatas, de vida ou saúde, próprias ou dos seus. Por vezes, com interrogações religiosas e questões de sentido. Mas o que os Evangelhos transmitem das respostas de Cristo ensina-nos duas coisas – entre muitas mais - que devemos ter presentes numa Igreja de “incarnação” e missão, isto é, que prolongue o que ouvimos na sinagoga de Nazaré: o acolhimento de todos, particularmente dos pobres e simples, com a fé e a expectativa que tragam; e a abertura dessa expectativa e das motivações imediatas – por vezes inaceitáveis – com que se abeirem de nós ao horizonte largo do Reino e do significado real das vidas. Clareza, paciência e persistência catequética, como Cristo as teve, mesmo com os seus apóstolos e discípulos, que aliás tinham toda a obrigação de aprender mais depressa do que geralmente o fizeram…
Nas circunstâncias actuais, em que somos poucos padres e diáconos, temos de reforçar a corresponsabilidade geral dos fiéis, para todos juntos garantirmos tal atitude acolhedora e conversora, local a local. Não nos faltam sinais de esperança quanto ao ministério ordenado: temos mais alguns candidatos ao sacerdócio, em três seminários diocesanos e no pré-seminário, e a oração pelas vocações sacerdotais eleva-se mais contínua por toda a Diocese; temos dezenas de candidatos ao diaconado permanente, com provas já dadas nas paróquias a que pertencem; temos a generosa colaboração dos religiosos e religiosas presentes na Diocese…
A falta de clero, que se deverá agravar nos anos mais próximos, será ultrapassada a médio prazo, se continuarmos a rezar e a trabalhar nesse sentido. Trabalho que deve passar muito principalmente pela atenção dos párocos e catequistas aos sinais de vocação sacerdotal e religiosa que o Espírito despertar nas comunidades e famílias. Mas, com tudo isto, a oferta pastoral passará cada vez mais pela comunidade cristã no seu conjunto – clero, consagrados e leigos – quer quanto à iniciação cristã, quer quanto à pastoral familiar, quer no âmbito sócio-caritativo. Até para que, no futuro, os padres possam definir-se mais no seu perfil essencial, em torno da pregação, da Eucaristia, da Reconciliação e do acompanhamento espiritual: tudo o mais deverão fazer com os outros cristãos e cristãs, na comunidade e especialmente na sociedade e na cultura.
A conveniência eclesial, por fim, é o que nos lança directamente na Missão diocesana de 2010. Dentro de dois meses será apresentado o plano geral do que nos propomos, para todo o curso dela. Basicamente, tentaremos que todas as comunidades da Diocese do Porto (paróquias, institutos religiosos e seculares, movimentos e associações) se projectem quanto possam no anúncio evangélico aos diferentes meios, territoriais e outros, com criatividade e entusiasmo acrescidos. Os Secretariados Diocesanos têm trabalhado nos tópicos sucessivos que a Missão há-de ter, de acordo com as aberturas sócio-culturais da população residente, bem como na preparação de algumas acções de maior fôlego. De tudo se dará conta brevemente, sobretudo para que as comunidades cristãs criem e organizem a partir daí as suas próprias iniciativas evangelizadoras, concretizando localmente os mesmos tópicos gerais.
A Igreja existe para evangelizar, traduzindo em cada tempo e circunstância o discurso de Cristo na sinagoga de Nazaré. E convém-lhe muito que evangelize, não só para servir o mundo, mas até para de algum modo se legitimar e garantir. Como acima disse, as actuais dificuldades são outras tantas oportunidades, a fim de nos renovarmos na corresponsabilidade para a missão. Aí e mais à frente nos reencontraremos.
Logo à tarde, nas comunidades que servis, caríssimos padres, iniciareis o sagrado Tríduo que, com todos os fiéis, vos confirmará na Páscoa de Cristo. Peço a Deus a graça, por intercessão maior de Nossa Senhora da Assunção, Padroeira da Diocese, do progresso grande nos sentimentos de Cristo: assim seremos Igreja em missão, crescendo como as sementes, quando se deixam lançar à terra.
Sé do Porto, 9 de Abril de 2009
+ Manuel Clemente

Do que se diz e pensa!
“Se Puderem…Não será preciso grande esforço para fazer subir à pele da memória as guerras intestinas na Federação Jugoslava no início dos anos 90 (do século passado) que levaram à secessão das repúblicas balcânicas, constituindo-se em países independentes.Foram particularmente ferozes as primeiras secessões, da Bósnia e da Croácia (para além da Eslovénia, cuja separação foi aceite pacificamente) e ficaram na mente os massacres levados a cabo de parte a parte, fuzilamentos em massa e acomodação de cadáveres aos milhares em valas comuns, umas à vista e outrasabertas em lugares esconsos para só mais tarde serem descobertas. Ou nunca.Mas uma das mais repugnantes sevícias praticadas ao tempo e naquelas paragens foi a violação de milhares de mulheres, muitas das quais acabaram por engravidar. Muitas eram cristãs e muitas outras eram muçulmanas. Logo foi colocado o problema de cariz ético/religioso. Seria legítimo, estou a pensar nas cristãs, por não saber o que fala o Corão quanto a isto, abortar? Houve discussão e foi o problema discutido ao mais alto nível pela Igreja Católica e, recordo, o Papa de então, João Paulo II teve a expressão mais comovente que imaginar-se pode. Disse ele em mensagens às mulheres violadas e engravidadas: Se puderem, conservem e tragam à vida esses filhos. Sem lançar uma palavrade recriminação para as que não pudessem. Se outras coisas não o definissem como uma Papa Bom, esta atitude de apelo e de compreensão atribuiu-lhe uma boa aura.Ocorreu-me este episódio depois de ler, ver e ouvir o miserável caso de uma menina brasileira de 9 anos (nove anos de idade) que, tendo sido violada pelo seu próprio pai, ficou grávida de gémeos. Porque seria um escândalo ético e ainda porque a vida da menina estava em risco, os médicos entenderam, e a sociedade avalizou, que se deveria libertar a criança daquele pesadelo e deliberaram interromper a gravidez. O que foi considerado normal e justo em todo o mundo.O Arcebispo de Olinda e Recife, um tal D. José Cardoso Sobrinho, produziu declarações medievas e, calculem lá, excomungou os médicos e todos quantos estiveram envolvidos no processo (terá até excomungado o edifício onde foi feita a intervenção, quem saberá?). Só não condenou à eterna separação da Igreja o violador. Não se sabe se lhe mandou a bênção apostólica. Tenho para mim que o antecessor arcebispo de Olinda, D. Hélder da Câmara de seu nome, deve ter dado algumas cambalhotas na tumba.A culminar esta incompreensível posição, a Santa Sé deu cobertura àquele purpurado e ratificou as excomunhões. O que faz pensar sobre a lentidão com que a Igreja Católica se faz alinhar com o tempo.É um tema que mereceria um forte debate pela generalidade da sociedade e onde se fizessem ouvir crentes, não crentes, cépticos e assim assim. O que se pensa desta matéria? O que faria cada um de nós em circunstâncias idênticas?Para desanuviar. Diz-se que em certo tempo e em freguesia não longe, um cristão terá entrado em grossa polémica com o abade, chegando-se a violentos insultos e quiçá a vias de facto. O abade não esteve com mais aquelas e excomungou-o. O homem não se terá dado por muito achado e, tendo-lhe surgido a oportunidade, emigrou para o Brasil, onde a vida lhe correu muito bem e, ao cabo de alguns anos, era senhor de grossos cabedais. A mulher, na correspondência normal, mandou-lhe dizer que o abade andava a fazer um peditório para fazer grandes restauros na igreja matriz. O excomungado, mesmo sendo-o, ordenou à mulher que desse ao abade dinheiro bastante para todo o restauro. O que ela fez. Não muito tempo depois, veio o brasileiro à sua terra e o abade tomou a iniciativa de se lhe dirigir a agradecer a generosa oferta e dizer que estava na altura de lhe levantar a excomunhão. Retorque logo o brasuca: Isso é que não! Nem pensar! O senhor excomungue-me é também a mulher, porque se a vida me havia de correr bem, foi depois da excomunhão. Acho que será isso que deverão dizer os médicos brasileiros ao tal arcebispo e já agora também ao Papa.”Do Terras da FeiraComentário:Discordo do duplo abortoDiscordo do aborto legalDiscordo dos Médicos traidores de HipócratesQue em vez de fomentar vidafomentam a morte pelo aborto que dizem legal = licença para matar!Excomungar a maralha também não tem sentido!E que até de fé e Igreja nada entendem!O “estrupador” é criminoso,violador,indigno,prevertido,bossalmas no meio de todosterá sido o que mais esteve pela vida!


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