quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dez respostas a dez perguntas!!! do Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Hora - Porto


Carta do Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Hora - Porto
Padre Amaro Gonçalo aos meninos e meninas
do Quarto Ano da Catequese em resposta às suas  ( 10 ) perguntas.
12 de Fevereiro de 2011

Olá, querido (a) amigo (a):
Espero que ao receberes esta longa Carta, te encontres na Paz e na graça da amizade com Jesus!
Foi com agradável surpresa, que recebi a tua Carta e a de teus amigos, com muitas questões, todas elas tão curiosas e tão importantes!
E, como o Apóstolo Paulo, também eu te dirijo a minha Carta, procurando dar-te resposta. Vou procurar ser simples e claro. Mas vou demorar um pouco. Podes ler esta carta, por etapas. Por exemplo, cada noite, lê apenas a resposta a uma pergunta.
1. Perguntas-me: “como se tornou Padre”?
Na verdade, ser Padre foi uma possibilidade que enfrentei, a sério, só pelos meus dezoito anos.
Até então, eu tinha um certo fascínio pela Igreja.
Gostava muito de ir à Missa, e, por vezes, até em dias de semana.
Fui leitor, acólito e catequista!
Mas nunca julguei ter qualidades para ser Padre.
Queria apenas ser um bom cristão, um amigo fiel a Jesus, um discípulo Seu.
Como tu, como os teus amigos, descobri Jesus, primeiramente na oração familiar, depois na catequese e, mais tarde, no convívio com as pessoas da Paróquia, onde nasci e cresci, em Eiriz, Paços de Ferreira.
Só mais tarde, depois do 11º ano, quando eu pensava ainda ser professor do 1º ciclo e frequentava para tal um Curso, é que me decidi a iniciar a minha preparação para o sacerdócio.
É que todos os meus amigos e amigas, desde o primeiro ano desse Curso, me diziam que eu dava «um bom Padre».
Na Paróquia, várias pessoas me diziam directamente: «tu devias ser Padre».
Muita gente me dizia isso e eu comecei a interrogar-me.
E, na altura em que fui crismado, conversei com o Bispo, que é o primeiro responsável da vida da Igreja!
Ele ouviu as minhas razões e sentimentos e achou que eu devia pensar a sério no assunto.
Frequentei então um ano o Pré-seminário (ia ao seminário de vez em quando, estando ainda em casa)
e logo depois entrei no Seminário Maior, com 18 anos.
Lá estive seis anos, até ser ordenado diácono, com 24 anos de idade.

2. Foi difícil estudar para ser Padre?
Não tive especiais dificuldades nos estudos.
Eu estava apaixonado pelo conhecimento profundo de Jesus, e tudo o que se referia a Ele e à sua Igreja me entusiasmava muito.
Sempre gostei de estudar.
E ainda hoje prezo muito a leitura e o estudo.
Se não estudarmos, rapidamente ficamos sem compreender a realidade que nos rodeia.
Há, com certeza, cursos mais exigentes, quanto ao estudo.
O Curso de Teologia é muito belo,
porque nos ajuda a descobrir a beleza da fé em Cristo.
E isso é uma dádiva tão boa que, comparado com isso, o esforço do estudo parece contar pouco!
Os seminaristas actualmente fazem o seu Curso de Teologia na Universidade Católica, onde convivem com rapazes e raparigas, que frequentam outros Cursos.
Mas vivem no Seminário, onde há um ambiente familiar de oração e de convívio entre aqueles que fazem parte do grupo dos que se preparam para ser Padres.

3. Perguntas-me se alguma vez hesitei na minha escolha?
Eu duvidei algumas vezes: esta escolha é só minha ou é primeiramente de Deus?!
Tive de rezar muito e muitas vezes;
tive de ouvir os outros, para compreender a vontade de Deus, a meu respeito.
Sim, muitas vezes eu me interrogava se devia ser Padre!
Mas tinha aquela confiança que a Igreja me dava, de que eu podia servi-la como Padre.
Todos me diziam com firmeza: «vais ser um Padre feliz».
Até a minha namorada, me disse um dia: «o teu coração é muito grande e eu sou muito pouco para ti. Precisas de amar muito mais pessoas ao mesmo tempo».
E assim foi.
No meu íntimo, eu sentia que o amor a Cristo e à Igreja era sempre maior que todos os outros amores.
Nos momentos de hesitação, Deus sempre me deu algum sinal, a apontar o caminho do sacerdócio.
Fui ordenado Padre, com vinte e cinco anos, no dia 14 de Julho de 1991, faz este ano 20 anos.
Estava, na altura, ao serviço do Seminário do Bom Pastor e colaborava em duas Paróquias de Paços de Ferreira.
Depois fui nomeado Pároco, para duas Paróquias em Amarante e dezasseis anos depois, fui chamado para ser vosso pároco, aqui na Senhora da Hora.
Tudo passou muito rápido.
Tudo me parece que foi ontem.
Mas tem sido tão bom ser Padre!

4. Perguntas-me «o que se deve fazer para alguém se tornar Padre»?
Primeiro, é preciso gostar muito de Jesus, querer muito viver na amizade com Ele.
E essa amizade implica escutar a sua Palavra,
participar na Eucaristia, servir a sua Igreja.
É assim que vive um cristão.
Se tu próprio sentes que seguir Jesus, mais de perto, como Padre é uma forma de seres feliz, podes pedir-me orientação, falar comigo.
E eu acompanhar-te-ei, com especial cuidado.
Podes entrar no Seminário, a partir do 10º ano.
Ou então mais tarde, no tempo da Universidade.
Mas podes também encontrar-te, desde já, com outros rapazes que sentem a mesma inquietação e convivem em alguns momentos do mês, nos espaços do Seminário.
É o chamado Pré-seminário.
Para ser Padre é preciso viver algum tempo no Seminário, para estabeleceres amizade com aqueles que um dia serão contigo e como tu, Padres, da mesma Diocese.
Vês: ser cristão, estudar com paixão, é necessário à preparação para ser Padre.
Mas há-de ser a Igreja, com os seus responsáveis que confirmará ou não a escolha de alguém, que diz gostar de ser Padre.
Se tu sentes esse chamamento ao sacerdócio e a Igreja vê em ti sinais claros de que essa é a forma de seres cristão, então um dia receberás o Sacramento da Ordem e, pela imposição das mãos, o Bispo, enquanto sucessor dos Apóstolos, fará de ti Padre, para os outros.
O Padre é um colaborar directo do Bispo na tarefa de construir a Igreja de Jesus.
O Bispo conta ainda com a colaboração dos diáconos.
Estes servem a Igreja, sobretudo na administração e organização da caridade, de modo que o Bispo e o Padre possam estar livres de outras preocupações, para se concentrarem no anúncio da Palavra e na orientação espiritual das comunidades.

5. Perguntas-me ainda se «a vida do Padre é uma vida comum.
E pões a habitual questão de o Padre não poder casar e ter filhos

Eu diria: a vida de Padre tem em comum com a vida de todos os cristãos o facto de ser um seguimento exigente, um caminho difícil, mas o único que nos torna felizes.
Em comum contigo e com todos vós, o Padre tem iguais dificuldades, alegrias, tristezas e esperanças.
O Padre não sofre mais do que os outros,
nem tem uma vida mais difícil que a dos outros.
Quem quiser ser cristão a sério,
terá sempre um caminho árduo, pela frente.
Só isso!
Mas ser pai, ser mãe, construir uma família é também um desafio muito desgastante e difícil.
Mas a alegria resulta apenas de se fazer tudo por amor.
E isso é o que mais importa!
Todavia, a vida do Padre não é “comum”,
no sentido de que o Padre torna presente,
na vida das pessoas, o rosto de Cristo, o Bom Pastor.
E isso torna-o diferente dos outros.
Por isso o Padre deve cultivar uma especial amizade com Jesus, uma amizade exclusiva, para poder ser para os outros, uma pessoa livre e a tempo inteiro, uma pessoa dedicada à causa do Evangelho!
Vede: Jesus, por causa do anúncio do evangelho e da construção do Reino de Deus, pôs aí todo o seu coração e não quis casar.
Deste modo, cada um de nós sente-se amado por Jesus, como se Jesus não tivesse mais ninguém para amar.
O Padre não casa, porque quer se imagem deste Jesus, que está de coração inteiro e exclusivo ao serviço dos outros.
Mesmo que seja muito belo casar e ter filhos – todos gostaríamos de ser felizes dessa maneira – a verdade é que é preciso alguém, que apareça diante da Igreja,
como imagem viva de Cristo,
que amou a Igreja, como sua Esposa e deu a vida por ela.
É verdade, que não é essencial ao «ser Padre»
o facto de «não ser casado».
Não foi sempre assim.
Não é assim, em todos os lugares da Igreja no mundo.
E provavelmente não será sempre assim!
Mas, no momento presente, estamos todos de acordo que, para ser Padre, é mais conveniente ter o coração livre das preocupações de uma família,
para tomar conta da Paróquia,
como se ela fosse a sua própria família.
Se, neste momento, algum Padre quiser casar,
pode fazê-lo, mas tem de renunciar a exercer o seu ministério sacerdotal.

6. Mas afinal o que faz o Padre? E isso que ele faz é uma profissão?
Uma coisa fique claro para ti: o Padre vale mais por aquilo que «é» do que por aquilo que «faz».
Ele, pelo Sacramento da Ordem, está identificado com Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja.
É uma condição nova, que não se pode confundir com uma profissão.
Ser pai e ser mãe também não é uma profissão.
É uma vocação, um chamamento do coração.
O Padre pode até exercer alguma actividade, como ser professor, (por exemplo), mas tudo o que faz deve estar ao serviço da sua missão: ser sinal eficaz da presença de Cristo, o Bom Pastor, que deu a vida por nós.
Embora o Padre possa receber um ordenado, para a sua justa sustentação, ele não trabalha para si, nem para enriquecer.
Eu tenho um ordenado mensal, para poder organizar e sustentar a minha vida
e a dos que cuidam e dependem da minha ajuda.
Mas o que faço de mais importante,
como celebrar a Eucaristia,
rezar pelo povo,
perdoar os pecados em nome de Cristo e da Igreja,
orientar os corações para Deus,
consolar os doentes,
organizar o serviço de todos para o bem da comunidade,
é algo que não se paga,
é algo que não tem preço!

7. Talvez uma menina me tenha perguntado sobre a possibilidade das mulheres serem Padres…
Ora bem, o que posso dizer é que este ministério do Padre não é uma invenção da Igreja, de modo que nós possamos dispor dele à nossa vontade, ao sabor da moda.
Não.
É um ministério que Cristo confiou aos Apóstolos, a Doze homens, que Ele escolheu como amigos especiais e através dos quais quis continuar a sua presença no mundo.
Jesus sempre teve consigo mulheres que O serviam, de diversas formas, e a quem Ele sempre elogiou
e manifestou a sua grandeza, a começar por Maria, sua Mãe. Mas Jesus, apesar de todo o carinho que tinha pelas mulheres, preferiu escolher homens para o ministério apostólico.
Podia ter contrariado os hábitos da época,
e fê-lo muitas vezes,
ao conversar com mulheres
e ao oferecer-lhes o seu amor.
Todavia, Jesus não lhes quis confiar o ministério apostólico, como o fez aos Doze.
Talvez seja preciso lembrar que «ser Padre» não é um posto, nem é uma promoção.
Admitir as mulheres ao Sacramento da Ordem não seria dar-lhes mais dignidade.
Mas o tempo e a vida da Igreja poderão vir a pensar neste lugar do sacerdócio, para as mulheres.
Só Deus sabe se sim e quando.
Eu não sei.

8. Há um conjunto vasto de perguntas que me fazes sobre a Paróquia e o modo como me sinto entre vós!
Olha: eu tive já a responsabilidade de duas Paróquias, em Amarante: São Gonçalo e São Veríssimo.
Estive lá entre 18 de Outubro de 1992 e 20 de Setembro de 2008.
Foram as primeiras comunidades
e o encanto dos primeiros anos é uma marca tão especial, que fica gravada para sempre.
Há pouco mais de dois anos, fui chamado, pelo Bispo da Diocese do Porto, a tomar conta desta Paróquia de Nossa Senhora da Hora.
São Paróquias muito diferentes umas das outras.
Não são melhores, nem piores.
Amo-as, de igual modo, como um pai e uma mãe amam e devem amar, da mesma maneira um, dois ou mais filhos, mesmo quando eles são diferentes, mesmo quando eles crescem e já não ficam sob a sua responsabilidade.
Gosto muito de ser pároco.
E gosto daqueles que Deus me confiou.
Quem não amar o Povo que lhe é confiado,
não serve para ser Padre.
Falando um pouco desta nossa Paróquia, aprecio muito o espírito de colaboração de muitos fiéis leigos.
E gosto de conviver com todas as pessoas, especialmente com aquelas que servem a comunidade, nos diversos grupos dos sectores da Liturgia, da Catequese ou da Caridade.
É uma Paróquia viva, que às vezes me deixa um pouco cansado, com tantas tarefas, mas felizmente conto sempre com o apoio de muitos!
Mas nunca me aborreci por celebrar a Eucaristia.
Nem me sinto envergonhado na Missa.
Pelo contrário, a Eucaristia é a obra mais importante que Deus faz por nós, através das mãos de um sacerdote.
Seria bom não ter de celebrar mais do que duas missas ao Domingo e eu tenho a sorte de raramente ter que ultrapassar esse número.
Por isso, rezo mais e tenho mais tempo livre, para acolher e conversar com as pessoas antes
e no final de cada Missa.
Gosto muito do contacto pessoal com o Povo de Deus.
Temos agora dois diáconos permanentes, que colaboram, na missão da Igreja, sendo eles a imagem viva de Jesus que está no meio de nós como Aquele que serve.
Eles não podem celebrar a Eucaristia,
nem escutar e absolver os pecados.
Mas estão na comunidade, atentos aos mais débeis, a ensinar-nos a todos, que a nossa missão é servir e não ser servidos. Ajudam na Missa, proclamando o evangelho e propondo as preces.
Podem baptizar, receber os noivos para casar, presidir aos funerais.
Os diáconos usam uma estola a tiracolo e uma veste diferente: a dalmática.
O Senhor Padre usa, por cima da túnica, uma estola e uma casula, que é de cor diferente, conforme o tempo litúrgico ou a festa que se está a viver.
Devemos mudar “a roupa” conforme o sítio
e o momento que estamos a viver.
Assim acontece na Liturgia da Igreja: mudamos as cores das vestes, para mostrar que um dia é diferente dos outros dias.

9. No conjunto das tuas perguntas, há algumas que têm a ver com curiosidades, a que eu prometo responder brevemente.
a) A minha comida preferida é «cozido à portuguesa»!
Mas gosto de todas as comidas e não há nenhuma que eu rejeite!
b) Antes de ser Padre, passei por diversas profissões, em tempo de férias: electricista, pedreiro, torneador, empregado de escritório.
O meu pai dizia que eu só tinha jeito para os livros e para a caneta.
Ele sabia que eu gostava muito de estudar, para compreender melhor a vida e servir melhor os outros.
Como Padre, fui professor de Educação Moral e Religiosa Católica no Seminário do Bom Pastor
e Director Adjunto do Colégio Diocesano de São Gonçalo. Estas tarefas, foram sempre realizadas dentro do espírito da minha missão sacerdotal.
c) A única coisa que quis na vida foi ser Padre.
E já o sou.
Não conto ser escolhido para Bispo e, muito menos, para Papa. Deus encontrará, com facilidade, pessoas muito mais capazes do que eu, para exercer essa missão.

10. Fazes-me, por fim, uma última pergunta, que me deixa a tremer:
Qual o meu maior sonho e qual o meu maior medo?

O meu maior sonho era que, entre todos os que lêem esta Carta, um de vós viesse, um dia, a ser Padre.
O meu maior medo é que algum, de entre os rapazes, não queira ser Padre, por não encontrar em mim os sentimentos, as palavras e os gestos de Jesus!
Mas conto com a força e a luz de Deus, para poder ser um sinal do amor preferencial de Jesus por todos e por cada um de vós! A minha alegria é saber que um dia vos dei a conhecer o Amigo, que nunca falha!
Finalmente desejo-te que Jesus nos torne cada vez mais amigos! E que os seus amigos se tornem cada mais amigos uns dos outros!
Obrigado pela paciente leitura desta longa Carta.
Um beijo de paz, como sinal da ternura de Deus, por ti!
Teu 
Padre Amaro
( com a devida vénia)

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