Encerramento da visita pastoral à paróquia da Vergada
Solenidade da Epifania do Senhor – 8 Jan 2012
Rev.mo Senhor Padre António Machado, Pároco de Cristo Rei da Vergada
Rev.mo Senhor Padre Casimiro
Rev.mo Senhor Padre Dr. Bastos
Rev.mos Diáconos Joaquim Santos e António Avelino
Caríssimos crismandos
Ex.mas Autoridades
Prezados irmãos e irmãs
Homilia
A solenidade da Epifania do Senhor é uma celebração importante dentro da vivência do Natal. Jesus verdadeiramente nasceu para se manifestar ao mundo. Não só aos que integravam o povo de Israel que esperava o Messias prometido, mas a todos os povos, em qualquer raça, cultura ou religião.
O profeta Isaías canta a cidade de Jerusalém, convidando a erguer-se e a iluminar-se para reconhecer os que vêm das mais diversas paragens ao seu encontro porque a glória do Senhor está sobre ela. É o Senhor que a ilumina e à Sua luz quer iluminar todos os povos que vivem nas trevas
Após o anúncio feito aos Pastores para irem ao encontro do Messias e os sinais pelos quais o deveriam identificar, o Evangelho descreve-nos que chegou a vez dos Magos virem de diversas paragens para também eles reconhecerem o Messias.
Há pormenores que interessa reter. Se os Pastores eram do Povo de Israel e homens simples, os Magos são estrangeiros, de civilizações distintas e são eruditos e homens da ciência. Ambos são guiados por Deus, seja no anúncio do Anjo, seja através da estrela que lhes indica que Alguém importante tinha acabado de nascer. Ao longo do caminho, os Magos tiveram necessidade de perguntar sobre o local onde encontrar a Jesus. Surpreendentemente, é precisamente Herodes que proporciona a interpretação das Escrituras e lhes oferece os dados para descobrirem o Messias acabado de nascer.
Também S. Paulo nos fala da sua experiência do encontro com Jesus de Nazaré. Diz ele que lhe foi comunicada a graça divina através duma revelação que lhe deu a conhecer o Mistério de Cristo. Reconhece que este Mistério esteve vedado a outras gerações, mas agora deu-se a conhecer a todos, sejam judeus ou gentios.
De igual modo, hoje, podemos dizer com S. Paulo que nos foi dada a possibilidade de reconhecer o Mistério de Jesus Cristo.
Tal como o profeta Isaías, a Palavra de Deus convida a comunidade crente, pequena e simples, a apreciar a luz que desponta nela e que lhe é proporcionada por iniciativa de Deus que lhe oferece os sinais para se encontrar com Jesus Cristo encarnado.
No itinerário dos Magos deparamo-nos com o encaminhamento que Deus dá ao nosso desejo de penetrar mais profundamente na sabedoria divina e, como tal, descobrirmos mais o mistério de cada pessoa e do universo. Para isso, exige-se o esforço da caminhada, já não de modo físico, mas na fé, ajudados por um conjunto de sinais e pessoas que integradas na cultura envolvente e, por vezes, sem o saberem, acabam por nos despertar para o encontro com Jesus Cristo.
Na linguagem conciliar, denomina-se a atenção aos sinais dos tempos. Diz-nos o Concilio Vaticano II: Para cumprir a sua missão, «a Igreja tem o dever de perscrutar incessantemente os sinais dos tempos e de os interpretar à luz do Evangelho, de tal sorte que possa responder de um modo adequado a cada geração, às perenes interrogações dos homens sobre o sentido da vida presente e futura e sobre a sua relação recíproca» (GS, 4). E, continua, sublinhando que importa conhecer e compreender este mundo no qual vivemos, as suas esperanças, as suas aspirações, a sua índole frequentemente dramática.
Com as perguntas acerca do homem, somos levados à pergunta sobre quem é verdadeiramente Jesus de Nazaré que acaba de nascer. Já que o ser humano permanece em si mesmo um enigma até que se encontre com o Mistério de Cristo, eis a interrogação que a Igreja quer suscitar no coração de todos os homens: quem é Jesus? Esta é a ansiedade espiritual que impulsiona a missão da Igreja: fazer conhecer Jesus, o seu Evangelho, para que cada homem possa descobrir no seu rosto humano o rosto de Deus, e ser iluminado pelo seu mistério de amor. A Epifania preanuncia a abertura universal da Igreja, a sua chamada a evangelizar todos os povos. Mas esta solenidade diz-nos também de que maneira a Igreja realiza esta missão: reflectindo a luz de Cristo e anunciando a sua Palavra. Os cristãos são chamados a imitar o serviço que a estrela prestou aos Magos. Devemos resplandecer como filhos da luz, para atrair todos à beleza do Reino de Deus. E a quantos buscam a verdade, devemos oferecer a Palavra de Deus, que leva a reconhecer em Jesus «o verdadeiro Deus e a vida eterna» (1 Jo 5, 20) (cfr. Alocução do Angelus, 6 de Janeiro 2011).
Permitam-me que tome um outro pormenor que confirma, nos Magos, a unidade entre inteligência e fé: é o facto de que, "avisados em sonho a não voltarem para junto de Herodes, regressarem à sua terra por outro caminho" (Mt 2, 12). Teria sido natural voltar a Jerusalém, ao palácio de Herodes e ao Templo, para dar realce à sua descoberta. Ao contrário, os Magos, que escolheram como seu soberano o Menino, guardaram-na no escondimento, segundo o estilo de Maria, ou melhor, do próprio Deus e, assim como tinham surgido, desapareceram no silêncio, satisfeitos, mas também transformados pelo encontro com a Verdade. Tinham descoberto um novo rosto de Deus, uma nova realeza: a do amor (cfr. Alocução do Angelus, 6 de Janeiro 2010).
Num tempo e numa cultura que relega a fé para o puro individualismo e para o sentimento pessoal, a postura dos Magos manifesta-nos que a inteligência deve colocar-se ao serviço do mistério e este deve orientar a inteligência. Fé e inteligência são ambos importantes e imprescindíveis para uma correcta vivência cristã.
Por último, somos convidados, tal como os Magos, a contemplar o mundo criado. O universo não é o resultado do caso, como alguns querem fazer-nos crer. Contemplando-o, somos convidados a ler nele algo de profundo: a sabedoria do Criador, a fantasia inesgotável de Deus, o seu amor infinito por nós. Não deveríamos deixar limitar a nossa mente por teorias que chegam apenas a um certo ponto e que — se olharmos bem — não estão de modo algum em concorrência com a fé, mas não conseguem explicar o sentido derradeiro da realidade. Na beleza do mundo, no seu mistério, na sua grandeza e na sua racionalidade não podemos deixar de ler a racionalidade eterna, e não podemos deixar de nos fazer guiar por ela até ao único Deus, Criador do céu e da terra. Se tivermos este olhar, veremos que Aquele que criou o mundo e Aquele que nasceu numa gruta em Belém e continua a habitar no meio de nós na Eucaristia são o único Deus vivo, que nos interpela, nos ama e quer conduzir-nos para a vida eterna (cfr. Bento XVI, Homilia, Solenidade da Epifania, 2011).
Caros Cristãos da Vergada, somos convidados a desinstalar-nos e a percorrer o caminho interior da fé que nos levará ao encontro de Jesus Cristo; ajudados pela Palavra da Escritura, pelos sinais que nos vem da cultura em que vivemos e pela partilha que em comunidade somos levados a realizar, descobriremos na simplicidade do presépio a Jesus Cristo o nosso salvador. Mas este é o dia que nos convoca para a missão de O anunciar aos nossos irmãos que ainda não O conhecem ou que já deixaram de O seguir. É nossa Missão guiar os nossos contemporâneos ao encontro de Jesus de Nazaré que por nós se fez Homem.
Ao longo desta semana, tive a graça de contactar com as diversas realidades eclesiais, socio-culturais e humanas, laborais e de serviço público. Agradeço o acolhimento que me prestaram e a alegria com que me receberam.
Tive ocasião de dialogar com os diversos grupos da paróquia, Conselho pastoral paroquial, Comissão executiva, Comissão de iniciativas da paróquia, catequistas (Infância e Adolescência), ministros extraordinários da comunhão, leitores, acólitos, coros, sociedade de S. Vicente de Paulo, zeladoras dos altares, LIAM, grupo de jovens, grupo de teatro «Sementinhas da Vergada», associação do Santíssimo Sacramento e almas, S. José, Sagrada Família e Santa Luzia , e ainda com crianças da catequese e seus pais, e os crismandos. Pude apreciar uma comunidade viva, organizada e capaz de responder às exigências da vida pastoral renovada, atendendo à corresponsabilidade de todos os cristãos, tal como nos interpela o Concílio Vaticano II.
Logo no inicio da visita pastoral, o acolhimento que me prestaram as autoridades públicas, ao deslocarem-se às instalações da paróquia, nomeadamente o Senhor Presidente da Junta de Moselos, o Senhor Presidente da Junta de Argoncilhe e demais membros de ambas as instituições, e do presidente da associação de melhoramentos, proporcionando um diálogo mútuo sobre a realidade e aspirações de todos os que servem esta população, testemunha a missão comum de trabalhar pela promoção da dignidade humana e pelo bem da sociedade, e são a garantia de que o homem é verdadeiramente o centro da nossa acção comum. Acresce ainda a visita às instalações da associação de melhoramentos e a sessão a que tive a honra de presidir que me edificaram pelo reconhecimento do muito que esta instituição tem feito em prol do povo da Vergada e pela edificação cultural que estão muito patentes nas exposições e na biblioteca aí localizadas.
A Igreja reconhece e valoriza todos os esforços gastos para que o trabalho esteja acessível a todos. Este é uma dimensão imprescindível da realização pessoal. Muitos e variados problemas se colocam ao mundo laboral e que se reflectem nos rostos daqueles com quem contactamos. Não é aqui o espaço para fazer uma descrição exaustiva desses mesmos problemas que se tornam um grande desafio para todos, e nomeadamente para os cristãos. A minha visita a algumas empresas procurou ser sinal da preocupação da Igreja pelo mundo do trabalho. Mas, importa sublinhar a preocupação que levo e que quero partilhar convosco, que tem a ver com os desempregados desta paróquia, como em muitas outras paróquias desta Vigararia. São muitos a somar a um conjunto de situações de pobreza, marginalidade e carência de vária ordem. São, sobretudo, pessoas a necessitar de uma resposta das autoridades públicas, de todos os que têm responsabilidades sociais neste sector e de nós como comunidade cristã. Sabe-se como esta região tem sido fustigada pelo flagelo do desemprego. A situação é preocupante e interpelante. Quanta solidariedade, justiça e verdade, imaginação, criatividade e empenhamento na partilha se exige de todos nós.
Quanta alegria encontrei no rosto das crianças da escola EB1 da Vergada e das crianças, adolescentes e jovens da escola Terras de Santa Maria. Fico reconhecido à Senhora Directora do agrupamento, à Senhora Directora da escola EB1 da Vergada, e ao Senhor Director da referida escola Terras de Santa Maria, professores, assistentes e associações de pais, pela forma como prepararam a minha visita e como exprimiram a sua simpatia pela minha presença. Gostaria de realçar o apreço que a Igreja coloca nesta missão tão nobre para a sociedade.
Mas a preciosidade desta visita pastoral, é forçoso dizê-lo, foi o contacto com os doentes, os idosos, os portadores de deficiência e os mais necessitados, tanto em suas casas, como na celebração na Igreja a eles dedicada. A sua alegria, os seus desabafos, o seu carinho e a certeza da sua oração, permitiram-me a experiência sensível da predilecção de Jesus Cristo por eles. Estas pessoas devem merecer o melhor das nossas preocupações.
Dirijo-me, agora, a si, Senhor Padre António Machado, Pároco desta Paróquia de Cristo Rei da Vergada, para lhe manifestar a alegria que levo comigo, não só pela forma como me recebeu e exprimiu a comunhão sacerdotal, mas sobretudo pela dedicação que coloca em toda a acção pastoral. Bem-haja e que o Senhor lhe continue a dar saúde para orientar pastoralmente esta paróquia por muitos anos.
Igualmente é de justiça uma palavra de apreço pelo trabalho pastoral dos Diáconos Joaquim Santos e António Avelino que tão generosamente colaboram com o Padre António Machado.
Cristo Rei da Vergada é uma paróquia de tradição cristã, donde saíram alguns sacerdotes. Verifica-se um processo rápido de transformação do modelo rural para o urbano. Está a crescer populacionalmente e espera-se maior crescimento ainda. Possui muitas unidades industriais. Alguma da sua população viu-se forçada a emigrar. Dada a sua caracterização industrial e a crise que sobre este sector se abateu, conta com muitos desempregados. Possui uma percentagem de prática dominical cerca de 15%, numa população a rondar os 5000 habitantes. Uma paróquia, como tantas outras, fortemente interpelada pelas correntes da mutação sócio-cultural.
Como refere o Concilio Vaticano II, estamos em época de grandes mudanças culturais que afectam profundamente a vida cristã e lançam enormes desafios à actividade pastoral da Igreja (cfr. GS, 4). Importa estar atentos e, movidos pelo Evangelho e à luz do Espírito Santo, discernir os Sinais dos Tempos. Este é trabalho de todos na comunidade cristã.
Por isso, é também meu dever lançar alguns desafios pastorais. Uns brotam da realidade que fui observando, outros são comuns à acção pastoral da Igreja para responder aos tempos que vivemos.
Eis alguns:
O profeta Isaías canta a cidade de Jerusalém, convidando a erguer-se e a iluminar-se para reconhecer os que vêm das mais diversas paragens ao seu encontro porque a glória do Senhor está sobre ela. É o Senhor que a ilumina e à Sua luz quer iluminar todos os povos que vivem nas trevas
Após o anúncio feito aos Pastores para irem ao encontro do Messias e os sinais pelos quais o deveriam identificar, o Evangelho descreve-nos que chegou a vez dos Magos virem de diversas paragens para também eles reconhecerem o Messias.
Há pormenores que interessa reter. Se os Pastores eram do Povo de Israel e homens simples, os Magos são estrangeiros, de civilizações distintas e são eruditos e homens da ciência. Ambos são guiados por Deus, seja no anúncio do Anjo, seja através da estrela que lhes indica que Alguém importante tinha acabado de nascer. Ao longo do caminho, os Magos tiveram necessidade de perguntar sobre o local onde encontrar a Jesus. Surpreendentemente, é precisamente Herodes que proporciona a interpretação das Escrituras e lhes oferece os dados para descobrirem o Messias acabado de nascer.
Também S. Paulo nos fala da sua experiência do encontro com Jesus de Nazaré. Diz ele que lhe foi comunicada a graça divina através duma revelação que lhe deu a conhecer o Mistério de Cristo. Reconhece que este Mistério esteve vedado a outras gerações, mas agora deu-se a conhecer a todos, sejam judeus ou gentios.
De igual modo, hoje, podemos dizer com S. Paulo que nos foi dada a possibilidade de reconhecer o Mistério de Jesus Cristo.
Tal como o profeta Isaías, a Palavra de Deus convida a comunidade crente, pequena e simples, a apreciar a luz que desponta nela e que lhe é proporcionada por iniciativa de Deus que lhe oferece os sinais para se encontrar com Jesus Cristo encarnado.
No itinerário dos Magos deparamo-nos com o encaminhamento que Deus dá ao nosso desejo de penetrar mais profundamente na sabedoria divina e, como tal, descobrirmos mais o mistério de cada pessoa e do universo. Para isso, exige-se o esforço da caminhada, já não de modo físico, mas na fé, ajudados por um conjunto de sinais e pessoas que integradas na cultura envolvente e, por vezes, sem o saberem, acabam por nos despertar para o encontro com Jesus Cristo.
Na linguagem conciliar, denomina-se a atenção aos sinais dos tempos. Diz-nos o Concilio Vaticano II: Para cumprir a sua missão, «a Igreja tem o dever de perscrutar incessantemente os sinais dos tempos e de os interpretar à luz do Evangelho, de tal sorte que possa responder de um modo adequado a cada geração, às perenes interrogações dos homens sobre o sentido da vida presente e futura e sobre a sua relação recíproca» (GS, 4). E, continua, sublinhando que importa conhecer e compreender este mundo no qual vivemos, as suas esperanças, as suas aspirações, a sua índole frequentemente dramática.
Com as perguntas acerca do homem, somos levados à pergunta sobre quem é verdadeiramente Jesus de Nazaré que acaba de nascer. Já que o ser humano permanece em si mesmo um enigma até que se encontre com o Mistério de Cristo, eis a interrogação que a Igreja quer suscitar no coração de todos os homens: quem é Jesus? Esta é a ansiedade espiritual que impulsiona a missão da Igreja: fazer conhecer Jesus, o seu Evangelho, para que cada homem possa descobrir no seu rosto humano o rosto de Deus, e ser iluminado pelo seu mistério de amor. A Epifania preanuncia a abertura universal da Igreja, a sua chamada a evangelizar todos os povos. Mas esta solenidade diz-nos também de que maneira a Igreja realiza esta missão: reflectindo a luz de Cristo e anunciando a sua Palavra. Os cristãos são chamados a imitar o serviço que a estrela prestou aos Magos. Devemos resplandecer como filhos da luz, para atrair todos à beleza do Reino de Deus. E a quantos buscam a verdade, devemos oferecer a Palavra de Deus, que leva a reconhecer em Jesus «o verdadeiro Deus e a vida eterna» (1 Jo 5, 20) (cfr. Alocução do Angelus, 6 de Janeiro 2011).
Permitam-me que tome um outro pormenor que confirma, nos Magos, a unidade entre inteligência e fé: é o facto de que, "avisados em sonho a não voltarem para junto de Herodes, regressarem à sua terra por outro caminho" (Mt 2, 12). Teria sido natural voltar a Jerusalém, ao palácio de Herodes e ao Templo, para dar realce à sua descoberta. Ao contrário, os Magos, que escolheram como seu soberano o Menino, guardaram-na no escondimento, segundo o estilo de Maria, ou melhor, do próprio Deus e, assim como tinham surgido, desapareceram no silêncio, satisfeitos, mas também transformados pelo encontro com a Verdade. Tinham descoberto um novo rosto de Deus, uma nova realeza: a do amor (cfr. Alocução do Angelus, 6 de Janeiro 2010).
Num tempo e numa cultura que relega a fé para o puro individualismo e para o sentimento pessoal, a postura dos Magos manifesta-nos que a inteligência deve colocar-se ao serviço do mistério e este deve orientar a inteligência. Fé e inteligência são ambos importantes e imprescindíveis para uma correcta vivência cristã.
Por último, somos convidados, tal como os Magos, a contemplar o mundo criado. O universo não é o resultado do caso, como alguns querem fazer-nos crer. Contemplando-o, somos convidados a ler nele algo de profundo: a sabedoria do Criador, a fantasia inesgotável de Deus, o seu amor infinito por nós. Não deveríamos deixar limitar a nossa mente por teorias que chegam apenas a um certo ponto e que — se olharmos bem — não estão de modo algum em concorrência com a fé, mas não conseguem explicar o sentido derradeiro da realidade. Na beleza do mundo, no seu mistério, na sua grandeza e na sua racionalidade não podemos deixar de ler a racionalidade eterna, e não podemos deixar de nos fazer guiar por ela até ao único Deus, Criador do céu e da terra. Se tivermos este olhar, veremos que Aquele que criou o mundo e Aquele que nasceu numa gruta em Belém e continua a habitar no meio de nós na Eucaristia são o único Deus vivo, que nos interpela, nos ama e quer conduzir-nos para a vida eterna (cfr. Bento XVI, Homilia, Solenidade da Epifania, 2011).
Caros Cristãos da Vergada, somos convidados a desinstalar-nos e a percorrer o caminho interior da fé que nos levará ao encontro de Jesus Cristo; ajudados pela Palavra da Escritura, pelos sinais que nos vem da cultura em que vivemos e pela partilha que em comunidade somos levados a realizar, descobriremos na simplicidade do presépio a Jesus Cristo o nosso salvador. Mas este é o dia que nos convoca para a missão de O anunciar aos nossos irmãos que ainda não O conhecem ou que já deixaram de O seguir. É nossa Missão guiar os nossos contemporâneos ao encontro de Jesus de Nazaré que por nós se fez Homem.
Ao longo desta semana, tive a graça de contactar com as diversas realidades eclesiais, socio-culturais e humanas, laborais e de serviço público. Agradeço o acolhimento que me prestaram e a alegria com que me receberam.
Tive ocasião de dialogar com os diversos grupos da paróquia, Conselho pastoral paroquial, Comissão executiva, Comissão de iniciativas da paróquia, catequistas (Infância e Adolescência), ministros extraordinários da comunhão, leitores, acólitos, coros, sociedade de S. Vicente de Paulo, zeladoras dos altares, LIAM, grupo de jovens, grupo de teatro «Sementinhas da Vergada», associação do Santíssimo Sacramento e almas, S. José, Sagrada Família e Santa Luzia , e ainda com crianças da catequese e seus pais, e os crismandos. Pude apreciar uma comunidade viva, organizada e capaz de responder às exigências da vida pastoral renovada, atendendo à corresponsabilidade de todos os cristãos, tal como nos interpela o Concílio Vaticano II.
Logo no inicio da visita pastoral, o acolhimento que me prestaram as autoridades públicas, ao deslocarem-se às instalações da paróquia, nomeadamente o Senhor Presidente da Junta de Moselos, o Senhor Presidente da Junta de Argoncilhe e demais membros de ambas as instituições, e do presidente da associação de melhoramentos, proporcionando um diálogo mútuo sobre a realidade e aspirações de todos os que servem esta população, testemunha a missão comum de trabalhar pela promoção da dignidade humana e pelo bem da sociedade, e são a garantia de que o homem é verdadeiramente o centro da nossa acção comum. Acresce ainda a visita às instalações da associação de melhoramentos e a sessão a que tive a honra de presidir que me edificaram pelo reconhecimento do muito que esta instituição tem feito em prol do povo da Vergada e pela edificação cultural que estão muito patentes nas exposições e na biblioteca aí localizadas.
A Igreja reconhece e valoriza todos os esforços gastos para que o trabalho esteja acessível a todos. Este é uma dimensão imprescindível da realização pessoal. Muitos e variados problemas se colocam ao mundo laboral e que se reflectem nos rostos daqueles com quem contactamos. Não é aqui o espaço para fazer uma descrição exaustiva desses mesmos problemas que se tornam um grande desafio para todos, e nomeadamente para os cristãos. A minha visita a algumas empresas procurou ser sinal da preocupação da Igreja pelo mundo do trabalho. Mas, importa sublinhar a preocupação que levo e que quero partilhar convosco, que tem a ver com os desempregados desta paróquia, como em muitas outras paróquias desta Vigararia. São muitos a somar a um conjunto de situações de pobreza, marginalidade e carência de vária ordem. São, sobretudo, pessoas a necessitar de uma resposta das autoridades públicas, de todos os que têm responsabilidades sociais neste sector e de nós como comunidade cristã. Sabe-se como esta região tem sido fustigada pelo flagelo do desemprego. A situação é preocupante e interpelante. Quanta solidariedade, justiça e verdade, imaginação, criatividade e empenhamento na partilha se exige de todos nós.
Quanta alegria encontrei no rosto das crianças da escola EB1 da Vergada e das crianças, adolescentes e jovens da escola Terras de Santa Maria. Fico reconhecido à Senhora Directora do agrupamento, à Senhora Directora da escola EB1 da Vergada, e ao Senhor Director da referida escola Terras de Santa Maria, professores, assistentes e associações de pais, pela forma como prepararam a minha visita e como exprimiram a sua simpatia pela minha presença. Gostaria de realçar o apreço que a Igreja coloca nesta missão tão nobre para a sociedade.
Mas a preciosidade desta visita pastoral, é forçoso dizê-lo, foi o contacto com os doentes, os idosos, os portadores de deficiência e os mais necessitados, tanto em suas casas, como na celebração na Igreja a eles dedicada. A sua alegria, os seus desabafos, o seu carinho e a certeza da sua oração, permitiram-me a experiência sensível da predilecção de Jesus Cristo por eles. Estas pessoas devem merecer o melhor das nossas preocupações.
Dirijo-me, agora, a si, Senhor Padre António Machado, Pároco desta Paróquia de Cristo Rei da Vergada, para lhe manifestar a alegria que levo comigo, não só pela forma como me recebeu e exprimiu a comunhão sacerdotal, mas sobretudo pela dedicação que coloca em toda a acção pastoral. Bem-haja e que o Senhor lhe continue a dar saúde para orientar pastoralmente esta paróquia por muitos anos.
Igualmente é de justiça uma palavra de apreço pelo trabalho pastoral dos Diáconos Joaquim Santos e António Avelino que tão generosamente colaboram com o Padre António Machado.
Cristo Rei da Vergada é uma paróquia de tradição cristã, donde saíram alguns sacerdotes. Verifica-se um processo rápido de transformação do modelo rural para o urbano. Está a crescer populacionalmente e espera-se maior crescimento ainda. Possui muitas unidades industriais. Alguma da sua população viu-se forçada a emigrar. Dada a sua caracterização industrial e a crise que sobre este sector se abateu, conta com muitos desempregados. Possui uma percentagem de prática dominical cerca de 15%, numa população a rondar os 5000 habitantes. Uma paróquia, como tantas outras, fortemente interpelada pelas correntes da mutação sócio-cultural.
Como refere o Concilio Vaticano II, estamos em época de grandes mudanças culturais que afectam profundamente a vida cristã e lançam enormes desafios à actividade pastoral da Igreja (cfr. GS, 4). Importa estar atentos e, movidos pelo Evangelho e à luz do Espírito Santo, discernir os Sinais dos Tempos. Este é trabalho de todos na comunidade cristã.
Por isso, é também meu dever lançar alguns desafios pastorais. Uns brotam da realidade que fui observando, outros são comuns à acção pastoral da Igreja para responder aos tempos que vivemos.
Eis alguns:
- Sendo uma paróquia ainda recente, importa continuar o esforço, através de algumas iniciativas, para fortalecer os laços de comunhão e de unidade entre todos os paroquianos.
- Continuar a crescer, como é vossa intenção, na comunhão e na corresponsabilidade eclesiais, nomeadamente pela valorização do Conselho Pastoral Paroquial, do Conselho Económico Paroquia e com algumas iniciativas que possam proporcionar o encontro e a união entre todos os habitantes da Vergada.
- Preparando o futuro, promover uma equipa pastoral que, sob a orientação do pároco e em relação com o Conselho Pastoral Paroquial, dinamize a vida pastoral da paróquia. Poder-se-á encaminhar para este objectivo o trabalho já realizado pelo Conselho Pastoral Paroquial.
- Dada a configuração e situação geográfica da paróquia, agora servida por grandes rodovias e perto de grandes centros urbanos, exige-se uma atenção privilegiada aos novos residentes. Sugiro, caso se veja necessário, que se organize um serviço de acolhimento aos novos residentes e afastados na prática cristã.
- Criar clima de florescimento vocacional na paróquia, onde Jesus Cristo possa continuar a chamar jovens para a vida sacerdotal, religiosa, missionária e matrimonial.
- Prestar atenção à catequese para todas as idades. Sensibilizar a comunidade cristã para o número suficiente de catequistas, apoiar as famílias para que os seus filhos possam fazer o itinerário global da catequese, e valorizar a catequese de adultos, com método, tempo, catequistas, etapas e conteúdos que lhe são próprios, propondo uma autêntica iniciação cristã dos que, pese já baptizados, não possuem experiência de vida cristã. Proporcionar o estudo da Doutrina social da Igreja, que reflicta a actuação no meio laboral, incluindo a reflexão acerca da realidade social que hoje afecta o emprego de tantos irmãos nossos.
- Prestar atenção à catequese para todas as idades. Sensibilizar a comunidade cristã para o número suficiente de catequistas, apoiar as famílias para que os seus filhos possam fazer o itinerário global da catequese, e valorizar a catequese de adultos, com método, tempo, catequistas, etapas e conteúdos que lhe são próprios, propondo uma autêntica iniciação cristã dos que, pese já baptizados, não possuem experiência de vida cristã. Proporcionar o estudo da Doutrina social da Igreja, que reflicta a actuação no meio laboral, incluindo a reflexão acerca da realidade social que hoje afecta o emprego de tantos irmãos nossos.
- Importa valorizar ainda mais o sector caritativo. A par com as respostas tradicionais, urge escutar os novos pobres e reconhecer onde estão os carenciados de hoje, nas suas diversas modalidades, para prestar a ajuda adequada.
- Promover uma pastoral familiar adequada, prestando atenção à família, durante a preparação dos noivos, na formação dos jovens e acompanhamento dos casais, através de algumas iniciativas que despertem para o seu valor numa sociedade que teima em destruí-la.
- Acolher e valorizar os movimentos apostólicos de actuação no meio do mundo. Sugiro que se aproveitem os dinamismos dos movimentos como os Convívios Fraternos e os Cursilhos de Cristandade que contam com alguns membros nesta paróquia.
- Promover a pastoral juvenil, com a criatividade própria e sem desânimos, num sector que está sempre a começar, seja através de movimentos ou de grupos de jovens. A partir do grupo de jovens já existente, orientando os que terminam o período da catequese e com os jovens já inseridos noutras actividades, desenvolver ainda mais a pastoral para jovens e com os jovens.
- Valorizar a Palavra de Deus através da dinamização de grupos bíblicos de modo a que todos os membros da comunidade cristã se deixem interpelar e conduzir pelo chamamento divino. Num tempo de tantas manifestações espontâneas de religiosidade, torna-se necessário deixarmo-nos conduzir pela correcta orientação que nos vem da Palavra de Deus, centralizando a nossa vida em Jesus Cristo.
- A defesa da vida é tarefa de todos, mas exige alguma organização para poder sensibilizar a sociedade para esta causa, em tempos em que a vida humana é tão ultrajada.
- Por último, convidar toda a comunidade cristã, a colocar-se em atitude de escuta da voz do seu Pastor, o nosso Bispo, que nos lançou o convite à nova evangelização, neste ano sobretudo dedicada à família e juventude, através de um novo ardor, novos métodos e nova linguagem, traduzida na consciência de cada cristão, de cada grupo e movimento, e de cada comunidade, que, sendo discípulo de Jesus Cristo, deve assumir a missão da Igreja no mundo.
Fixemos o nosso olhar em Cristo Rei, que escolhestes para vosso padroeiro, modelo único e universal de Evangelizador, e deixemo-nos cativar por ele.
Termino, implorando de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, que abençoe esta paróquia, as suas famílias, crianças, jovens, adultos, doentes e idosos, e nos acompanhe pelos caminhos que levam à evangelização do mundo de hoje.
Amen.
+ João Lavrador
Bispo Auxiliar do Porto
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