quinta-feira, 10 de maio de 2012


LITURGIA do VI Domingo da Páscoa 
13 de Maio de 2012

MESA DA PALAVRA

Leitura dos Actos dos Apóstolos  Actos 10, 25-26.34-35.44-48

Naqueles dias, Pedro chegou a casa de Cornélio.
Este veio-lhe ao encontro e prostrou-se a seus pés.
Mas Pedro levantou-o, dizendo:
«Levanta-te, que eu também sou um simples homem».
Pedro disse-lhe ainda:
«Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável».
Ainda Pedro falava, quando o Espírito desceu sobre todos os que estavam a ouvir a palavra. E todos os fiéis convertidos do judaísmo, que tinham vindo com Pedro, ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo se difundia também sobre os gentios, pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus. Pedro então declarou:
«Poderá alguém recusar a água do Baptismo aos que receberam o Espírito Santo, como nós?»
E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo. Então, pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles.

Salmo Responsorial 
Salmo 97 (98)

O Senhor manifestou a salvação a todos os povos.

Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

Leitura da Primeira Epístola de São João 1 Jo 4, 7-10

Caríssimos: Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.

Aleluia. Se alguém Me ama, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. Aleluia.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João  Jo 15, 9-17

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».
 COMENTÁRIO AOS TEXTOS
 Permanecei no meu amor

1 Leitura (At 10, 25-26.34-35.44-48): “O Espírito difundia-se entre os pagãos”

Este episódio - o "Pentecostes dos pagãos" - é precedido da visão de Pedro em Jope (At 10, 9-16) que ajudou o apóstolo a relativizar a distinção entre animais puros e os impuros. Segundo a Lei, ficava impuro quem se alimentasse de animais impuros ou neles tocasse. Pedro, porém, só descobriu o sentido da visão quando acedeu ao convite para se deslocar a Cesareia, porque um pagão, "o centurião Cornélio, um homem justo, que teme a Deus" o queria, por revelação divina, "ouvir expor os acontecimentos" (At 10, 22). De facto, a superação das prescrições judaicas acerca da pureza ritual, eliminava o principal obstáculo ao contacto assíduo entre os judeus e os pagãos. O texto da leitura co-meça com a chegada de Pedro junto de Cornélio. O v. 34, início do discurso de Pedro, explicita a abertura do cristianismo aos pagãos, já que "Deus não faz acepção de pessoas". Depois do discurso kerigmático (de anúncio) de Pedro, o Espírito é derramado sobre os gentios que escutaram a palavra de Pedro. O dom do Espírito manifesta que a iniciativa do chamamento à salvação continua a ser de Deus, o Qual, aliás, despertara Cornélio para o anúncio de Pedro. Neste contexto - visão de Pedro, convite de Cornélio, auditório composto por gentios – acentua-se o carácter universal da salvação oferecida por Deus, trazida por Cristo e realizada ali no dom do Espírito, sem distinção de pessoas, raças ou povos, na linha preconizada no Pentecostes, em que judeus, oriundos de todas as nações, ouviam falar os apóstolos na sua própria língua (cf. At 2, 5-6). Na efusão do Espírito de Act 10, os sinais andam próximos dos do Pentecostes: o dom das línguas e o louvor. Os destinatários da efusão são, no entanto, diferentes para salientar e confirmar que a salvação não tem fronteiras, tal como Pedro, o apóstolo dos judeus reconhece, admitindo Cornélio e a sua família na Igreja mediante o Baptismo. Depois da aceitação do sucedido pela Igreja de Jerusalém (cf. At 11, 18) estava, no plano dos princípios, aberto o caminho para a acção evangelizadora de Paulo, o apóstolo dos gentios. Entretanto, a tensão entre o ambiente judaico e a abertura aos gentios continuará a fazer-se sentir de forma acentuada (cf. At 15).
 
Evangelho (Jo 15, 9-17): “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos”
O texto de hoje continua a alegoria da vide da leitura evangélica do domingo anterior. Contudo, a centralidade da vide é agora substituída pelo amor. Neste fragmento podemos distinguir duas partes:
- A comunicação continua do amor que tem a sua fonte no Pai e a sua manifestação suprema em Jesus Cristo (vv. 9-13). A origem do amor de Cristo pelos homem encontra-se no amor com que o Pai O amou. O movimento do Pai para o Filho transforma-se em movimento do Filho para os discípulos: o amor de Jesus continua no amor dos discípulos. A comunicação deste amor desagua num apelo: "Permanecei no meu amor" (Jo 15, 9b; cf. Jo 15, 4). A referência aos mandamentos, como garantia da permanência no amor, ultrapassa o domínio do sentimento para colocar o amor no âmbito da sintonia de vontades na obediência. A alusão à alegria pela revelação do amor possibilita a interiorização deste mandamento sob o signo da alegria, também comunicada por Cristo aos discípulos num mesmo e único movimento. Esta alegria resultará da permanência dos discípulos no amor, mediante o amor recíproco. A vivência do projecto de Jesus Cristo é caminho efectivo de felicidade. O v. 13 ao evocar a morte de Cristo como acto supremo do amor torna-se o centro desta passagem: o amor de Cristo pelos homens na sua morte é insuperável e absoluto, motivando a fidelidade quotidiana do discípulo ao amor fraterno.
- O amor orientado na perspectiva dum fruto que permanece e da oração escutada pelo Pai (vv. 14-17). O amor de Cristo transforma por pura graça os amados: já não são servos, mas amigos; não executam ordens cujo significado não atingem, mas a obediência resulta do amor oferecido e acolhido, a fidelidade decorre da descoberta da fonte do amor. A vivência do mandamento do amor está orientada na perspectiva dum fruto que permanece e da oração escutada pelo Pai. O fruto esperado e permanente será a irradiação da fé e do amor dos discípulos no mundo, mediante o amor fraterno: "O que vos mando é que vos ameis uns aos outros".
 2.ª Leitura (1 Jo 4, 7-10): “Deus é amor”
O centro temático desta perícope joanina é sem dúvida o amor. Depois de falar do amor cristão, amor "com obras e em verdade" (1 Jo 3, 18), como referia o texto o domingo anterior - o autor procura fazer o ponto da situação: a origem do amor está em Deus; o amor de Deus manifesta-se em seu Filho Jesus Cristo. Podemos dividir este fragmento em duas partes a partir desta distinção temática referida e do jogo literário das antíteses: a) vv. 7-8: Nesta parte, diz-se que a origem do amor cristão se encontra em Deus, "porque Deus é amor". Esta não é, contudo, uma definição essencialista de Deus, mas uma definição dinâmica e histórico-sal-vífica: a actividade mais específica de Deus é amar ocupando-se e preocupando-se com o homem; o amor de Deus manifestou-se na história humana de variadas formas e de maneira suprema em Jesus Cristo. Esta definição histórico-salvífica abre caminho para a segunda parte. b) vv. 9-10: O amor de Deus manifestou-se em Jesus Cristo. O envio do Filho é expressão do amor do Pai. A prova suprema deste amor de Deus pelos homem em Jesus Cristo acontece no sacrifício voluntário da cruz, no qual Cristo assume em si a línguagem sacrificial vetero-testamentária (cf. Ex 19, 36-37), sendo "vítima de expiação pelos pecados". Na cruz Ele desvela totalmente o amor de Deus: amor de entrega concreta, palpável e vitalizadora.


HOMILIÁRIO PATRÍSTICO

A caridade é a beleza da alma
Poderá uma mulher feia... ficar bela se amar um homem belo? ... E, do mesmo modo, poderá ficar belo o homem por amar uma mulher bonita? Ama-a, mas quando se vê ao espelho, envergonha-se de olhar de frente para a bela mulher que ama. Que fará para ser belo? Acaso esperará que lhe venha ainda a beleza? Mas, ao contrário, enquanto espera virá a velhice que o tornará ainda mais feio. Não há nada a fazer, e o único conselho que se lhe pode dar é que se afaste e, não estando à altura, desista de amar uma mulher que lhe é superior... A nossa alma, ó irmãos, é feia por culpa do pecado: mas torna-se bela amando a Deus. Qual é o amor que torna bela a alma que ama? Deus é sempre beleza, nunca se encontra n'Ele deformidade ou mu-dança. Amou-nos em primeiro lugar, Ele, sempre belo! E amou-nos quando éramos feios e disformes. (…) De que modo seremos belos? Amando-O a ele, que é sempre belo. Quanto mais cresce em ti o amor, tanto mais cresce a beleza; a caridade é, precisamente, a beleza da alma.
(S. Agostinho, In Io. Ep. tr., 9, 9)


SUGESTÕES LITÚRGICAS

1. A Páscoa é uma festa longa. Os cristãos têm motivações de sobra para viver a intensidade festiva da Páscoa.
2. "O que vos mando é que vos ameis uns aos outros": toda a celebração é um exercício da comunhão na oração, na escuta da Palavra, na participação de todos no mesmo Pão da Vida... Hoje, este denominador comum poderia sublinhar-se de modo especial no sinal da paz. A saudação fraterna poderia ser precedida pela repetição desta "ordem" de Jesus. O aperto de mão pode ser a forma mais indicada entre pessoas que quase não se conhecem. Tenha-se em conta que a sobriedade, recomendada pelas normas, e a espontaneidade sugerida pela vivência da comunhão fraterna. Recorde-se que na saudação da paz não há cântico.
3. Leitores: 1.ª Leitura: O leitor faça distinção entre a narração e a fala de Pedro. 2.ª Leitura: Leia devagar a primeira frase de modo a evitar as sibilantes e a dar ênfase às palavras mais importantes.
Sugestão de cânticos:  Entrada: Anunciai com voz de júbilo, F. Valente, BML 106, 66; Ó Páscoa gloriosa, F. Santos, NCT 165; O Senhor ressuscitou, M. Luís, NCT 176; Salmo Resp.: Diante dos povos, F. Santos, BML 46, 14; Aclam. ao Ev.: Se alguém Me tem amor, F. Santos, BML 11, 10; Comunhão: Vós sereis meus amigos, F. Lapa, BML 100,64; Vós sereis meus amigos, M. Luís, NCT 128; O Teu Corpo, F. Santos, BML 24, 16.


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