Algumas questões prévias
Acontece que hoje alguns jovens que querem celebrar
o seu Matrimónio em Igreja desconhecem o que significa a Celebração litúrgica.
Mas, o que é mais grave, a formação de alguns padres, diocesanos ou religiosos,
deixa muito a desejar, neste campo, porque não lhes foi dada uma devida
formação profunda, neste âmbito de carácter mais performativo que o Seminário
de outrora era mais capaz.
E nisto
se comprova, facilmente, se déssemos exemplos concretos, aliás suficientemente
divulgados e espalhados.
Custa-nos
dizer, mas é nossa obrigação, pois que nos parece que o Seminário perdeu essa
capacidade, alienando tal responsabilidade para as Escolas de Teologia que, com
frequência, carecem desse tipo de formação, mesmo que pertença, eventualmente, ao
curriculum.
A própria experiência pastoral não forma, como se esperava, mas
deforma, em muitos casos, como não se desejava.
Diz o II Concílio do Vaticano: «Com razão se considera a Liturgia como o
exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam
e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo
Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral.
Portanto, qualquer celebração litúrgica é por ser obra de Cristo sacerdote e do
seu Corpo que é a Igreja, acção sagrada por excelência, cuja eficácia, com o
mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra acção da Igreja»
(Constituição Litúrgica = SC, 7).
A Igreja entende que, por relação privilegiada, o Sacramento do
Matrimónio que reflecte o grande Sacramento das Núpcias de Cristo (O Cordeiro)
com a Sua Esposa (a Igreja) seja celebrado com a Eucaristia (salvo nas excepções
extraordinárias previstas).
«Celebre-se habitualmente o Matrimónio
dentro da Missa, depois da leitura do Evangelho e da homilia e antes da Oração
dos fiéis». (SC, n.°78)
Muitos noivos que preparam e desejam o seu casamento na Igreja, fazem um
guião da celebração que pode ser muito útil para ajudar os convidados que
normalmente estão ausentes na missa dminica1, a participar nessa celebração e
para aqueles que se afastaram da Igreja. Mas acontece que tais “missais “ (
guiões da celebração), não reflectem a celebração da Igreja, mas são, notoriamente,
criações voluntaristas e irresponsáveis.
E o pior é que se publicam e
reproduzem, fora da orientação da própria Igreja. Basta consultar a Net para
percebermos como são fabricados, pois que, pelo seu carácter subjectivo,
sobrepõem-se a qualquer determinação da própria Igreja. Afinal, o que se deseja
é a pompa religiosa, mas não um matrimónio na Igreja.
Isto refere-se não só aos textos (alguns são interessantes, mas
despropositados, outros são simplesmente idiotas, embora
muito sentimentais). É neste
desfasamento da celebração litúrgica que se insere a música para avolumar os
problemas e transformar o carácter da celebração litúrgica (exercício da função
sacerdotal de Cristo), em festa social dos noivos.
Então, facilmente se chega ao
desvario. Esteve (ou está ainda) na moda cantar uma Ave-Maria (Schubert ou
outro) à entrada da noiva. Outros
proporão para o Ofertório o Pie Jesu (da missa dos mortos) de Fauré, outros, um
programa de algum grupo especializado no negócio, outros ainda, reúnem o “Coro
de família”- sempre preparado, sem ensaios - com umas guitarras e violas, em
jeito de animação. Mas, infelizmente, alguns coros (paroquiais ou marginais)
propõem um programa de animação da Missa, a gosto dos noivos (pois que estes
adquiriram tais capacidades transitórias).
Só nos perguntamos se o silêncio não seria a melhor música! Maltrata-se
a música, mas muito mais a celebração litúrgica.
De resto, que se pode fazer?
Dada a nossa incultura musical, não é possível em muitas situações, propor um
projecto paroquial, por falta de estímulo e formação de organistas, directores
e Coros Litúrgicos.
E, porventura, será isso possível e desejável, num plano
diocesano?
Formação dos Párocos e Formação dos Agentes Musicais é o que é mais
urgente. Nada de novo.
Os documentos da Igreja são abundantes sobre o assunto.
Só que ainda não foram aplicados, como se vê.
Do SDL Voz Portucalense
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