quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Solenidade da Dedicação da Catedral do Porto

Solenidade da Dedicação da Catedral do Porto
 Homilia  do Reverendo Senhor Bispo D. João Lavrador
Reúne-nos, hoje, na Catedral a celebração da sua dedicação e com ela o inicio de um novo ano pastoral. Fazemo-lo em comunhão eclesial, à volta do nosso Bispo, que embora ausente em trabalhos pastorais da Conferência Episcopal, queremos lembrá-lo e em acção de graças aos Senhor, rogar por ele e pelo seu ministério na nossa Igreja diocesana.
Mas a nossa celebração toma a expressão também do compromisso daqueles que, vivendo na unidade e na comunhão da Igreja, se dispõem a servi-la através da evangelização nos diversos âmbitos em que ela se empenha na única missão de Jesus Cristo.
Por isso, entre muitos cristãos empenhados na vida da Igreja diocesana, estão aqui os Vigários da Vara das diversas Vigararias, os membros dos secretariados diocesanos com os seus responsáveis, os professores de Educação Moral e Religiosa nas Escolas e institutos de vida consagrada.

A Palavra de Deus que acabámos de escutar coloca o ser humano com as suas inumeráveis carências perante Deus que vem ao seu encontro com a Palavra e com os sinais salvíficos.
A marca que o profeta Isaias nos quer deixar, como deixou aos seus contemporâneos, é de coragem pela retribuição e pela justiça que Deus vem trazer. Então, o profeta a partir das limitações humanas, descritas pela falta de vista, do ouvido, do andar e do falar, ou através da imagem do deserto, convida a reconhecer que a presença e a actuação de Deus oferecem ao ser humano a sua dignidade original, proporcionam-lhe a vivência da esperança e da alegria e, no contexto em que vive tudo será modificado de tal modo que a vida se exprime por tal exuberância que se pode comparar às águas correntes que tomam o lugar do deserto, ou as nascentes que substituem a terra sequiosa.

Mas a experiência de proximidade e de actuação concreta e sensível de Deus só se faz em Jesus Cristo. Por isso, o Evangelho apresenta-nos a cena do encontro entre um surdo que falava com dificuldade e o próprio Senhor.

Neste homem carenciado destes dois sentidos importantíssimos para a sua compreensão, para a sua relação com os outros e com o meio onde vive, está representada toda a humanidade que enquanto não se encontrar com Jesus Cristo através da Sua Palavra e pelos gestos salvíficos, não se reencontra com a sua dignidade de filha de Deus.

O centro desta cena conduz-nos à acção de Jesus Cristo que se realiza permanentemente na Igreja.
O modo como Jesus acolhe e como executa a obra que transforma o ser deste homem conduz-nos à profundidade de vida divina que os sacramentos oferecem a partir dos sinais exteriores.
S. Tiago presenteia-nos com o contexto no qual a comunidade cristã deve viver o verdadeiro amor de Deus pelo ser humano.
Se preferência deve haver entre os discípulos de Jesus Cristo só poderá ser para com os mais pobres e marginalizados.
Por isso, a segunda leitura começa por uma forte advertência que proferida pelo Apóstolo às suas comunidades é um alerta constante para a sintonia de vida dos cristãos com o amor que Deus oferece aos seus filhos, convidando-os à partilha fraterna e ao serviço dedicado aos que mais precisam.

Voltando-nos novamente para o Evangelho, encontramos três expressões que nos comprometem na acção evangelizadora e no serviço a prestar à pessoa e à sociedade.

Começa por dizer que aquele homem que tinha necessidade dos gestos salvadores de Jesus Cristo foi conduzido por alguém.
Eis, o desafio evangélico tantas vezes sublinhado na acção dos contemporâneos de Jesus Cristo, isto é, só é possível às mulheres e homens de cada tempo encontrarem-se com a fonte da salvação que é Jesus Cristo presente na comunidade cristã se houver quem vá ao seu encontro, os acolha e conscientemente os encaminhe para Aquele que tem poder de libertar.
Não reconheceremos nós que está aqui uma exigência actual para a nova evangelização?

Em segundo lugar aparece o próprio que recebeu a graça salvífica e se reconhece na total dignidade de filho de Deus, que, apesar da recomendação de Jesus Cristo em contrário, anuncia desassombradamente o nome d’Aquele que o libertou.
É, sem dúvida, tão importante no processo evangelizador a narração do que o Senhor vai realizando em cada um de nós.
A isto chamamos testemunho vivo e coerente, o Evangelho a passar pela vida, pelos critérios, opções e valores que orientam a existência de cada cristão e que se expõem a todos os que vivendo connosco são chamados a reconhecer a Jesus Cristo como Aquele que oferece a plenitude da vida e da realização.
Eis um segundo desafio para nós chamados a operar uma nova evangelização com novo ardor, com novos métodos e com nova linguagem.

Por último, somos integrados e interpelados pelo assombro da multidão que presenciava estes factos.
Sim, no modo como vivemos a fé cristã, como a testemunhamos, da alegria que ela provoca na vida pessoal e comunitária, pertence-nos despertar na sociedade actual o espanto, a admiração e o encanto que o encontro e acção de Jesus Cristo provoca na pessoa que a Ele se abre e se deixa transformar por Ele.
Faz parte do processo evangelizador provocar o fascínio e alegria pela obra maravilhosa de Jesus Cristo.
A proclamação e o testemunho do amor infinito de Deus revelado em Jesus Cristo, presente na vida da comunidade cristã, terão de ser vividos de tal modo que suscitem os sentimentos que são descritos naqueles que na primeira hora presenciaram os gestos salvadores do Senhor.

Este próximo ano está marcado pelo convite do Santo Padre ao aprofundamento e vivência coerente da Fé cristã.
Como o próprio Papa afirma, no contexto da celebração dos cinquenta anos da abertura do Concilio Vaticano II, após vinte e cinco anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica e, posteriormente, do seu Compendio, reconhecendo a erosão que se tem provocado na fé cristã, através de uma cultura demolidora dos conteúdos cristãos da existência humana, pelo afrouxamento da evangelização e da catequese, e pelo afastamento progressivo do homem contemporâneo em relação à Igreja, urge um conhecimento e experiência cristãs bem fundamentadas na realidade de Deus Revelado em Jesus Cristo, tal como a Igreja O apresenta na Escritura Sagrada,
nos Documentos Conciliares,
no Catecismo
e na vida concreta da comunidade cristã.

É este itinerário que iniciaremos como comunidade diocesana e em festa no próximo dia 4 de Novembro, nesta mesma Igreja Catedral e que depois se concretizará num conjunto de actividades paroquiais e vicariais, nomeadamente nas Jornadas Vicariais da Fé.

A terminar estas minhas reflexões convido-vos a vós que tendes responsabilidades na vida pastoral da Igreja diocesana, a reconhecerdes, a partir da celebração que nos reúne nesta Igreja Mãe, a exigência da Comunhão eclesial, que tem a sua fonte em Deus, Mistério de Comunhão e de relação divina, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e toma a sua expressão na Igreja que somos, na Diocese e em cada comunidade paroquial, no modo como vivemos e refazemos constantemente a comunhão entre nós, no diálogo, no perdão, na partilha fraterna. A Comunhão eclesial é um dom mas é também uma tarefa constante que exige uma atenção cuidada de todos os cristãos.

Em estreita relação com a Comunhão está o empenho na missão da Igreja diocesana. Convido-vos a abrirdes o vosso coração, a vossa inteligência e a fortalecer a vontade para aceitardes em compromisso festivo a tarefa que o Senhor vos encarrega de realizardes ao longo deste ano pastoral.
O nosso Bispo conta com todos nós para que este ano, centrado no mais essencial da nossa condição de cristãos, a Fé, seja vivido em profundidade e, através das diversas acções que vão decorrer, possa atingir todos os diocesanos.
Imploro de Nossa Senhora, Santa Maria, Mãe de Deus, que vos abençoe e que nos encaminhe pela evangelização do mundo de hoje.
Amen
+ João Lavrador, Bispo Auxiliar do Porto

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