domingo, 11 de setembro de 2011

Homilia do Senhor Bispo do Porto a 9 de Setembro 2011


Amados irmãos, especialmente vós os que a vários títulos
vos corresponsabilizais comigo e com os Senhores Bispos Auxiliares
nos serviços centrais e órgãos colegiais da Diocese do Porto,
ou nas 22 Vigararias
e na leccionação de Moral e Religião Católica,
em pleno início dum novo ano escolar:
1. Ano pastoral, contexto social
e nova evangelização a fazer
A Dedicação da Sé proporciona-nos anualmente
a feliz ocasião de retomar a normalidade
das actividades diocesanas naquilo a que se convencionou
chamar um novo “ano pastoral”.
É já uma designação corrente, mas nem por isso indistinta.
Na verdade, só se pode dizer assim se realmente participar – participarmos nós todos,
os que, na responsabilidade de cada um,
nos dispomos a protagonizá-lo  dos sentimentos
e da atitude de Cristo, “o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10, 11).
E é muito significativo que o discurso do Bom Pastor
seja colocado pelo evangelista no contexto da festa
da dedicação do templo de Jerusalém.
Templo que Jesus já purificara, 
num episódio anterior – o que acabámos de escutar -,
para responder surpreendentemente:
“Destruí este templo e em três dias o levantarei”. 
E o evangelista esclarece: “Jesus falava do templo do seu Corpo” (cf. Jo 2, 13 ss).
Anunciava, podemos dizê-lo, uma nova dedicação
e um novo templo.
Jesus dedica-se a si mesmo como o novo templo
em que nos encontramos agora,
na oferta ao Pai para a salvação de todos.  
Esta é a verdade da Igreja e a sua operação no mundo:
a Páscoa de Cristo, feita, também por nós,
Páscoa do mundo, com a verdade primeira
e última de que só na entrega nos  realizamos plenamente.
É o nosso “segredo”, que - aqui positivamente - será
proclamado sobre os telhados (cf. Lc  12, 3).
Com o “novo ardor, novos métodos e novas expressões”
que caracterizam a nova evangelização, tão inadiável e premente.
O ano pastoral que inauguramos – 2011-2012 – acontece
num preciso momento da sociedade
e da Igreja que não podemos nem queremos ignorar.
Muito pelo contrário,
é este o cronos que o Espírito de Deus quer
fazer kairos, 
por entre as alegrias,
as esperanças,
as tristezas
e as angústias
(cf. Gaudium et Spes, 1)
que a todos geralmente respeitam.
A sociedade portuguesa – como tantas outras da Europa
e além desta – sofre uma “crise" que verdadeiramente
se pode chamar assim,
tanto por sobressaltar o curso normal de muitas existências,
como por exigir um sério “juízo” sobre o que a originou e como sair dela.
Na encíclica Caritas in Veritate,
Bento XVI já fez tal juízo e apontou-nos as necessárias mudanças a empreender,
decerto na sociedade e na economia,
mas prioritariamente nas consciências individuais e “colectivas”,
se assim se pode dizer.
Trata-se de levar muito mais a sério do que se tem feito
e a todos os níveis da sociedade civil
e política aquele conjunto de princípios
que a Doutrina Social da Igreja enuncia basicamente
como: a dignidade da pessoa humana,
o bem comum,
a subsidiariedade
e a solidariedade, 
(cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 160).
 160 -  Os princípios permanentes da doutrina social da Igreja 
constituem os verdadeiros e próprios gonzos 
do ensinamento social católico:
trata-se do princípio da dignidade da pessoa humana ― 
já tratado no capítulo anterior ― 
no qual todos os demais princípios 
ou conteúdos da doutrina social da Igreja têm fundamento,
do bem comum,
da subsidiariedade
e da solidariedade.
Estes princípios, expressões da verdade inteira
sobre o homem conhecida através da razão e da fé,
promanam «do encontro da mensagem evangélica
e de suas exigências,
resumidas no mandamento supremo do amor 
com os problemas que emanam da vida da sociedade».
A Igreja, no curso da história e à luz do Espírito,
reflectindo sapientemente no seio da própria tradição de fé,
pôde dar-lhes fundamentação
e configuração cada vez mais acuradas,
individualizando - os progressivamente 
no esforço de responder com coerência às exigências dos tempos
e aos contínuos progressos da vida social.
No que nos diz directamente respeito,
como Igreja Portucalense,
sugiro
e quase requeiro que,
neste ano pastoral, cada comunidade cristã
e cada associação de crentes não deixe de reler esta parte
do Compêndio da D.S.I., para ajuizar do que faz
e deve fazer, muito concretamente, a partir daí.

 2. Jornadas Mundiais da Juventude: um sinal dos tempos
Quanto à Igreja em geral, temos de tirar conclusões
e consequências do que de mais relevante aconteceu ultimamente.
Selecciono em especial as Jornadas Mundiais da Juventude,
que vivemos com o Santo Padre e mais de um milhão de jovens
em Madrid, há menos de um mês.
O que ali experimentámos e agora continua
no espírito de tantos jovens que nelas participaram –
inclusive da nossa diocese – é,
sem dúvida alguma, um “sinal dos tempos” de primeiríssima ordem.
Compete-nos agora – como o urgiu o Concílio
há quase meio século – perscrutar
e interpretar evangelicamente tal sinal
(cf. Gaudium et Spes, 4)
dando-lhe o melhor seguimento na vida eclesial.
O que se passou nas Jornadas configura já aquela performatividade da esperança
a que Bento XVI aludiu na sua segunda encíclica (cf. Spe Salvi, 2):
pela sua alegria e disponibilidade,
pela sua procura
e adesão ao convite papal,
aqueles jovens já davam substância
e actualidade à esperança que inegavelmente
constituem para a Igreja e para o mundo.  
Foi, de facto, um magnífico sinal dos tempos,
porque tantos jovens do catolicismo mundial se evidenciaram ávidos
de comunhão autêntica, nas duas dimensões que cristãmente a definem:
a busca de Deus
e a disponibilidade para os outros.
Nas múltiplas manifestações que preencheram aqueles abençoados dias,
este verdadeiro “essencial cristão” demonstrou-se exuberantemente.
E, bem assim, o sentido pascal da existência.
As Jornadas Mundiais da Juventude configuram propositadamente um “tríduo”,
que leva da meditação da Paixão,
à grande vigília de sábado
e à Missa final do Domingo.
Isto mesmo, com o misto de cansaço e alegria,
com as catequeses e o culto eucarístico,
com as oportunidades de convívio, reflexão e celebração da Reconciliação,
tudo proporciona aos jovens participantes uma forte experiência de encontro
com Cristo vivo na sua Igreja
e nos múltiplos sinais em que nela se evidencia.
Também não é por acaso que todas as edições destas Jornadas
redundam em descobertas
e decisões vocacionais, sempre na ordem das centenas
e com as mais variadas especificações.
3. Família e Juventude: viver em comunhão, formar para a comunhão
Amados irmãos: Se me detive um pouco mais nas Jornadas Mundiais da Juventude
foi também para reforçar o que já foi anunciado,
ou seja que na Diocese do Porto nos dedicaremos
neste ano – e porventura além dele – aos pontos centrais
da Família
e da Juventude.
Assim decorreu da avaliação feita à Missão 2010
e assim foi colegialmente decidido que se fizesse.
É claro e sabido que a programação pastoral duma diocese
já está previamente preenchida com tudo o que ocupa quase a cem por cento
a normalidade das acções comuns dos pastores e das comunidades, ou seja,
com a pregação
e a catequese,
a piedade
e os sacramentos,
a acção sócio caritativa.
Mas também sabemos que é conveniente destacar
algum ponto mais urgente,
quer em todas essas acções habituais,
quer com realizações mais oportunas.
É agora o caso da Família
e da Juventude, continuando e especificando a missão.
Quer isto dizer que
paróquias
e vigararias,
congregações
e institutos,
associações
e movimentos,
todos são convidados a ter tais pontos muito presentes
no que fizerem por si
ou conjuntamente.
Já em Maio passado tive ocasião de escrever aos padres,
pedindo-lhes que combinassem entre si
e inter-paroquial
ou vicarialmente algumas acções específicas
a Família
e a Juventude.
Na última reunião de vigários e adjuntos já se partilharam algumas ideias
nesse sentido, cuja concretização avançará certamente agora.
Por seu lado, os nossos Secretariados Diocesanos também terão estes dois pontos particularmente em vista, na acção conjugada que desenvolvem.
Perspectiva-se desde já uma grande actividade para toda a Diocese,
quase um encontro geral de famílias
e jovens,
nos três primeiros dias de Junho.
E, com esta dupla incidência, de novo se evidenciarão
quer a referida essencialidade cristã,
quer o sentido pascal da existência.
O lema poderá ser, ligando o significado da família com a pedagogia juvenil:
“Viver em comunhão, formar para a comunhão”.

4. Com exemplos concretos de santidade reconhecida
Estimados vigários e adjuntos,
que agora iniciais ou continuais a importantíssima tarefa de coordenação pastoral
que vos incumbe;
estimados professores de Educação Moral e Religiosa Católica
que estais a começar um novo ano escolar,
com tão relevante encargo;
caríssimos irmãos todos,
aqui felizmente presentes,
numa “dedicação” que,
relembrando a desta venerável catedral,
é sobretudo nossa: Deixai-me acrescentar ainda uma sugestão prática,
muito recebida de João Paulo II e Bento XVI,
qual seja a da importância dos exemplos concretos de santidade reconhecida.
Todos lembramos a preciosa indicação de Paulo VI,
de que “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas
do que os mestres, ou então, se escuta os mestres,
é porque eles são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi, nº 41).
Pois bem, sugiro-vos a todos que,
em relação à Família
ou à Juventude,
deis os exemplos magníficos de quantos foram recentemente
elevados aos altares porque demonstraram,
ao longo do século XX, o que é uma família cristã
e o que é um jovem cristão.
Sobre a família, tendes o exemplo dos
esposos Luís e Maria Beltrame Quatrocchi,

Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877)
 Ele era relojoeiro; ela rendeira: de origem burguesa, 
santos por eleição. São eles: Luís Martin (1823-1894) 
e Zélia Guérin (1831-1877) os pais de Teresa do Menino Jesus. 
É o segundo casal de esposos depois de Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, 
beatificados em 2001 por João Paulo II que é elevado às honras dos altares.
Ambos eram filhos de militares e foram educados num ambiente disciplinado, 
severo, muito rigoroso e marcado por um certo jansenismo 
ainda rastejante na França da época. 
Os dois receberam uma educação de cunho religioso:
nos Irmãos das escolas cristãs, Luís; nas Irmãs da adoração perpétua, Zélia. 
Ao terminar os estudos, no momento de escolher o próprio futuro, 
Luís orientou-se para a aprendizagem do ofício de relojoeiro, 
não obstante o exemplo do pai, conhecido oficial do exército napoleónico. 
Zélia, inicialmente, ajudava a mãe na administração da loja de família. 
Depois, especializou-se no "ponto de Alençon" na escola que ensina a tecer rendas. 
Em poucos anos os seus esforços foram premiados: abriu uma modesta fábrica para a produção de rendas e obteve um discreto sucesso.
Ambos nutrem desde a adolescência o desejo de entrar numa comunidade religiosa. 
Ele experimentou pedir para ser admitido 
entre os cónegos regulares de Santo Agostinho 
do hospício do Grande São Bernardo nos Alpes suíços, 
mas não foi aceite porque não conhecia o latim. 
Também ela tenta entrar nas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, 
mas compreende que não é a sua estrada.
Durante três anos Luís vive em Paris, hóspede de parentes, 
para aperfeiçoar a sua formação de relojoeiro. 
Naquele período foi submetido a muitas solicitações 
por parte do ambiente parisiense impregnado de impulsos revolucionários. 
Aproximou-se até de uma associação secreta, mas afastou-se imediatamente. 
Insatisfeito com o clima que se respirava na capital, transferiu-se para Alençon, 
onde iniciou a sua actividade, conduzindo 
até à idade de 32 anos um estilo de vida quase ascético. 
Entretanto, Zélia, com a receita da sua empresa, 
manteve toda a família, vendendo rendas para a alta sociedade parisiense. 
O encontro entre os dois acontece em 1858 na ponte de São Leonardo em Alençon. 
Ao ver Luís, Zélia percebeu distintamente 
que ele seria o homem da sua vida.
Após poucos meses de noivado, casam. 
Conduzem uma vida conjugal no seguimento do Evangelho, 
ritmada pela missa quotidiana, pela oração pessoal 
e comunitária, pela confissão frequente, 
pela participação na vida paroquial. 
Da sua união nascem nove filhos, quatro dos quais morrem prematuramente. 
Entre as cinco filhas que sobreviveram, está Teresa, a futura santa, 
que nasceu em 1873. As recordações da carmelita 
sobre os seus pais são uma fonte preciosa para compreender a sua santidade. 
A família Martin educou as suas filhas a tornar-se não só boas cristãs 
mas também honestas cidadãs. 
Aos 45 anos Zélia recebe a terrível notícia de que tinha um tumor no seio. 
Viveu a doença com firme esperança cristã até à morte ocorrida em Agosto de 1877.
Com 54 anos, Luís teve que se ocupar sozinho da família. 
A primogénita tem 17 anos e a última, Teresa, tem 4 e meio. 
Então, transferiu-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia. 
Deste modo, as filhas receberam os cuidados da tia Celina. 
Entre os anos de 1882 e 1887 Luís acompanhou as três filhas ao carmelo. 
O sacrifício maior para ele foi afastar-se de Teresa 
que entra para as carmelitas com apenas 15 anos. 
Luís foi atingido por uma enfermidade que o tornou inválido 
e que o levou à perda das faculdades mentais. 
Foi internado no sanatório de Caen. Morreu em Julho de 1894.

beatificados conjuntamente há dez anos
e pelas virtudes de cada um, sendo a primeira vez que tal aconteceu.
Deles escreveu o bispo e teólogo Bruno Forte:
“[A de Luís e Maria Beltrame Quattrocchi]
é antes de mais a história dum profundíssimo amor humano,
feito de paixão e delicadeza, de doação e fidelidade totais,
de partilha e comum empenho em amar e servir a vida em si e nos outros,
começando pelos amadíssimos filhos. […]
As cartas, os gestos, as atenções destes dois enamorados,
que assim se mantiveram não obstante o correr do tempo
e a fadiga dos dias, são um hino à beleza
e à dignidade de tudo o que é verdadeiramente humano,
um testemunho do valor altíssimo duma vida vivida
a dois com sabedoria e responsabilidade,
que em tudo e para tudo souberam ser como um só”
(Cf. prefácio de Bruno Forte ao livro de Giorgio Papàsogli, Questi Borghesi…
I Beati Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi, Siena, Edizioni Cantagalli, 2001, p. 5).
Sobre a juventude, tendes os vários jovens beatificados
pelos dois últimos papas,
de Marcel Callo, militante do Escutismo
e da Acção Católica, morto num campo
de concentração nazi porque aí mesmo prosseguia
o seu apostolado com os outros prisioneiros,
a Chiara Luce Badano (Clara Luz),
Biografia
Chiara Badano nasceu em Sassello, cidade dos Apeninos lígures, 
que pertence à diocese de Acqui, no dia 29 de outubro de 1971, 
depois que os pais a aguardaram por 11 anos. 
O seu nome é Chiara (Clara, em português) 
e ela era assim, com seus olhos límpidos e grandes, 
com o sorriso doce e comunicativo, inteligente e determinado, 
vivaz, alegre e esportiva. 
Foi educada pela mãe com as parábolas do Evangelho 
a conversar com Jesus e a lhe dizer “sempre sim”.
Era uma menina saudável, gostava da natureza 
e de brincar, mas desde pequena se distinguia 
pelo amor que tinha por aqueles que eram considerados 
os “últimos”, a quem cobria de atenções e de serviços, 
muitas vezes renunciando a momentos de divertimento. 
Já no Jardim de Infância colocava as suas economias 
numa pequena caixa para as “crianças de cor” 
e sonhava em poder um dia ir à África como médica para cuidar delas.
Foi uma menina normal, mas com algo mais, 
com uma sensibilidade às coisas divinas. 
No dia da sua primeira Comunhão recebeu de presente o livro dos Evangelhos. 
Foi para ela um “magnífico livro” e “uma extraordinária mensagem”,  
como afirmou: “Para mim, é fácil aprender o alfabeto, 
deve ser a mesma coisa viver o Evangelho!”.
Aos 9 anos entrou como Gen (geração nova) 
no Movimento dos Focolares. 
Viveu a sua espiritualidade e pouco a pouco envolveu os pais. 
Desde então a sua vida foi um contínuo crescimento 
para colocar Deus como primeiro lugar de sua vida.
Prosseguiu os estudos até o Liceu clássico, mas aos 17 anos, 
de repente uma dor aguda no ombro esquerdo revelou nos exames 
e nas inúteis operações um osteossarcoma (tumor maligno nos ossos), 
que deu início a um calvário de dois anos aproximadamente. 
Depois que ouviu o diagnóstico, Chiara não chorou nem se revoltou: 
ficou imóvel em silêncio e depois de 25 minutos saiu dos seus lábios 
o sim à vontade de Deus. Repetirá muitas vezes: 
“Se é o que você quer, Jesus, é o que eu quero também”.
Não perdeu o seu sorriso luminoso; enfrentou tratamentos dolorosos 
e arrastava no mesmo Amor quem dela se aproximava. 
Ela não aceitou receber morfina para não perder a lucidez 
e oferecia tudo pela Igreja, pelos jovens, os ateus, 
pelo Movimento dos Focolares,
pelas missões, permanecendo serena e forte. Repetia: 
“Não tenho mais nada, contudo tenho o meu coração 
e com ele posso sempre amar”.
O seu quarto, no hospital em Turim 
e em casa, era um lugar de encontro, 
de apostolado, de unidade: era a sua igreja. 
Também os médicos, até mesmo aqueles 
não praticantes da religião, ficavam desconsertados 
com a paz que se sentia ao seu redor 
e alguns se reaproximaram de Deus. 
Eles se sentiam atraídos como por um ímã 
e ainda hoje se recordam dela, falam sobre ela e a invocam.
Quando sua mãe lhe perguntou se ela sofria muito, 
Chiara respondeu: 
“Jesus tira de mim as manchas 
dos pontinhos pretos com a água sanitária e isso queima. 
Quando eu chegar ao Paraíso serei branca como a neve”. 
Estava convencida do Amor de Deus por ela. 
De fato, afirmava: “Deus me ama imensamente” 
e, depois de uma noite particularmente dura, acrescentou: 
“Sofria muito, mas a minha alma cantava…”.
Os amigos que a visitavam para consolá-la voltavam para casa consolados. 
Pouco antes de falecer, ela revelou: 
“Vocês não podem imaginar como é agora o meu relacionamento com Jesus… 
Sinto que Deus me pede algo mais, algo maior. 
Talvez seja ficar neste leito por anos, não sei. 
Interessa-me unicamente a vontade de Deus, 
fazê-la bem no momento presente: aceitar os desafios de Deus. 
Se agora me perguntassem se quero andar  
(a doença chegou a paralisar as pernas com contracções muito dolorosas),  
eu diria não, porque assim estou mais perto de Jesus”.
Chiara, pela insistência de muitos, num bilhetinho, 
escreveu a Nossa Senhora: 
“Mãezinha Celeste, eu te peço o milagre da minha cura; 
se isso não for vontade de Deus, peço-te a força para nunca ceder!”. 
E ela permaneceu fiel a este propósito.
Desde muito jovem fez o propósito de não 
“doar Jesus aos amigos com as palavras, mas com o comportamento”. 
Mas nem sempre isso era fácil e ela repetiu algumas vezes: 
“Como é duro ir contra a corrente!”. 
E para conseguir superar cada obstáculo, repetia: “É por ti, Jesus!”.

Para viver bem o cristianismo, 
Chiara procurava participar da missa todos os dias, 
quando recebia Jesus Eucaristia, a quem tanto amava. 
Lia a palavra de Deus e a meditava. 
Muitas vezes refletia sobre a frase de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares: “Serei santa se for santa já”.
Quando viu sua mãe preocupada, pois ficaria sem ela, Chiara continuou a repetir: 
“Confie em Deus, pois você fez tudo”; 
e “Quando eu tiver morrido, siga Deus 
e encontrará a força para ir em frente”.
Acolhia com amabilidade quem vai visitá-la; 
escutava e oferecia o próprio sofrimento. 
Nos últimos encontros com o seu Bispo, 
manifestou um grande amor pela Igreja. 
Enquanto isso, a doença avançava e as dores aumentavam. 
Nenhum lamento, dos seus lábios só se ouvia: 
“Com você, Jesus, por você, Jesus!”.
Chiara se preparou para o encontro com Deus: 
“É o Esposo que vem me encontrar” 
e escolheu o vestido de noiva, 
as canções e as orações para a “sua” Missa; 
o rito deveria ser uma “festa”, onde “ninguém deverá chorar”.
Recebendo pela última vez Jesus Eucaristia, fica imersa Nele 
e pede que seja recitada a oração: “Vinde Espírito Santo, 
mandai do Céu um raio da tua luz”.
O nome “LUCE” (LUZ) lhe foi dado por Chiara Lubich, 
com quem teve um intenso e filial relacionamento desde pequena.
Não teve medo de morrer. Disse à sua mãe: 
“Não peço mais a Jesus para vir me pegar e me levar para o Paraíso, 
porque quero ainda lhe oferecer o meu sofrimento 
para dividir com ele ainda por um pouco a cruz”. 
Uma vez disse sobre os jovens: “Os jovens são o futuro. 
Eu não posso mais correr. 
, gostaria de lhes passar a tocha, como nas Olimpíadas. 
Os jovens têm uma vida só e vale a pena empregá-la bem!”.
E o “Esposo” veio buscá-la no amanhecer do dia 7 de outubro de 1990, 
depois de uma noite muito dolorosa. Era o dia da Virgem do Rosário. 
Estas foram suas últimas palavras: 
“Mãezinha, seja feliz porque eu o sou. Adeus”. 
Ela também fez a doação das suas córneas.
O enterro foi celebrado pelo Bispo de então 
e dele participaram centenas de jovens e muitos sacerdotes. 
Os integrantes do Gen Rosso 
e do Gen Verde tocaram as canções escolhidas por ela.
O exemplo luminoso de Chiara atinge muitos corações de jovens e adultos, 
os move e os orienta a Deus.
A sua “fama de santidade” se estendeu imediatamente em várias partes do mundo, 
rendendo muitos “frutos”. 
Dom Livio Maritano, Bispo da Diocese de Acqui,
no dia 11 de junho de 1999 abriu o Processo pela a Causa de Canonização. 
No dia 3 de julho de 2008 ela foi declarada Venerável 
com o reconhecimento do exercício heróico das virtudes teologais e cardeais. 
No dia 19 de dezembro de 2009, o Papa Bento XVI reconhece o milagre atribuído à intercessão da Venerável Chiara Badano, 
e assinou o Decreto para a sua Beatificação.
O bispo de Acqui, que começou o processo de estudo da vida de Chiara Luce para apresentá-la como modelo de vida cristã 
e a conheceu pessoalmente, 
justificou a sua iniciativa com as seguintes palavras: 
“Pareceu-me que o testemunho dela fosse significativo em particular para os jovens. 
Também hoje se precisa de santidade. 
É preciso ajudar os jovens a encontrar uma orientação, 
um objetivo, a superar inseguranças e solidão, 
os seus enigmas diante dos insucessos, da dor, 
da morte, de todas as suas inquietações. 
É surpreendente esse testemunho de fé, 
de força por parte de uma jovem de hoje: toca e leva muitas pessoas a mudar de vida. 
Temos prova disso quase todos os dias”.
Site oficial em italiano: http://www.chiaralucebadano.it/


luminosa focolarina a que nem a doença tirou a alegria
e a fé irradiantes. Indico-vos ainda um outro jovem,
beatificado em 1990 por João Paulo II,
que lhe chamou “o jovem das oito bem-venturanças”,
e que já marcou tantos jovens católicos,
sempre sensíveis à sua espantosa irradiação de vigor e caridade.
Refiro-me obviamente a
Pedro Jorge Frassati,

Pedro Jorge Frassati  (1901 - 1925)
Mais uma vida bem curta, mas em linha recta para Deus, 
e incomparável como apaixonante modelo para rapazes, 
aos quais aconselhamos vivamente a leitura da sua bela biografia ('), 
da qual vamos dar aqui ligeiríssimo apontamento.
Nascido em Turim em 1901, filho do Director do jornal «La Stampa», 
que também foi embaixador de Roma em Berlim, e duma mãe admirável, 
que nele soube incutir o incondicional culto da verdade 
formar-lhe a vontade numa educação viril, 
de montanhês de Bielle — nem doces, nem mimos; 
só em dias de festa — realizou o mais completo tipo de autêntica virilidade, 
aquela que o mundo é incapaz de conceber: a virilidade que domina as paixões da adolescência e sabe sujeitar inteiramente a vida a uma vontade forte. 
Não se deixou viver; venceu a vida.
Não havia nele sombra de respeito humano, 
assim como era incapaz de trair a palavra dada, 
ou de faltar à verdade no mais insignificante ponto. 
Duma alegria «que nunca foi vista ofuscar-se», 
cheio de bom humor e de exuberância, gozou da máxima popularidade 
entre os companheiros, aos quais arrastava com o seu vozeirão estentórico. 
Quantos deles não foram influenciados pela lição do seu
comportamento de cristão íntegro! Era dotado, diz um seu íntimo, 
duma «caridade tão vivida e sentida, 
que o tornava o elemento de união, 
a pessoa por todos amada, sem excepção. 
E valendo-se deste privilégio para aliciar todos ao bem, 
tinha mais a rara habilidade de não o fazer notar».
Conseguia assim fazer notáveis conquistas, 
precisamente porque dele e apesar do seu desassombro, 
se pode dizer que o seu grande mérito consistiu 
em realizar todo o oposto do tipo clássico do beato.
Outra razão do seu prestígio entre rapazes residiu 
na supe¬rioridade da sua adaptação a todos os desportos, 
nos quais facilmente triunfou, fosse a bola, a natação, 
o remo, a bicicleta, a equitação, o automobilismo e, mais que tudo, 
o alpinismo, que foi a sua grande paixão 
e no qual quis iniciar tantos companheiros de estudos, 
aos quais solicitamente amparava 
nas suas primeiras excursões às montanhas.
Que alegria e que encanto não sabia ele imprimir-lhes! 
Como auxiliava e animava os seus colegas fatigados! 
E também como vigiava que não deixassem 
de cumprir os seus deveres religiosos!
Foi também sempre delicadíssimo 
e atencioso ao máximo com os humildes, 
aos quais igualmente cativava.
Enquanto os outros rapazes discutiam complicados sistemas filosóficos, 
Pedro Jorge, seguro na simplicidade do seu pensar, 
não inventava crises nem dores; sabia donde vinha e para onde ia.
Mas é preciso que percorramos, embora de fugida, 
a sua actividade vicentina, que tanto o absorveu, porque, 
conforme afirmava, ela fazia mais bem 
aos seus amigos vicentinos do que aos pobres. 
A um tipógrafo amigo, que se lhe queixava do desânimo 
de certos operários modernos, angustiados 
por grandes misérias morais, observava-lhe: 
«Olha, para se curarem, seria bom que fizessem a visita aos pobres. 
Se esses que assim se degradam tanto, 
vissem com os próprios olhos a miséria material,
como nós a vemos todas as semanas, 
experimentariam desgosto da sua miséria moral, 
fruto da baixeza e vulgaridade a que não raro fazem descer o seu procedimento».
Foi aos 17 anos que Pedro Jorge entrou 
para a Conferência dos Padres Jesuítas no Instituto Social 
e dali passou, aos 21, para a do Círculo Universitário. 
Generoso nas dádivas, não regateava tão pouco o seu tempo, 
prestando-se a substituir os vicentinos impedidos: 
assim, visitava correntemente quatro e cinco famílias 
e assim também era dos mais assíduos à sessão da Conferência, 
de que foi Vice-Presidente e onde muitas vezes substituía o Secretário.
Era não só benfeitor, mas o amigo e irmão dos pobres que visitava, 
os quais acompanharam o seu funeral com verdadeira veneração, 
tocando o esquife e fazendo o sinal de cruz.
Fez entre os seus companheiros da Universidade 
a mais intensa campanha para propaganda da obra das Conferências, 
à qual deveu muito da sua formação e que não sacrificava, 
mesmo nas épocas de mais violento trabalho escolar: 
«morrer a tudo, excepto à Conferência de S. Vicente de Paulo», dizia ele! 
E era tão grande a sua dedicação pelos pobres, 
que evitava sair de Turim para a aldeia no Verão, 
a fim de não faltarem de todo os visitadores! 
Era também ele o único vicentino que não se preocupava 
com o estado da caixa: queria sempre atender a todas as misérias.
São inúmeros e edificantes os traços que até nós chegaram 
da sua zelosíssima vida vicentina, 
apesar do recato e modéstia da sua actuação. 
Lembremos apenas a narrativa simples, por ele feita, 
a mudança de casa dum pobre: fora preciso procurar outra casa, 
esta apareceu e a mudança fez-se... Simplesmente faltou dizer como se fez: 
foi ele próprio, empurrando um carro de mão através das ruas de Turim, 
onde tão conhecido era. No carrinho, os desmantelados trastes, e pela mão, 
os cinco andrajosos filhinhos do pobre!
Já agonizante, na véspera da morte, 
a sessão da Conferência decorria sob um peso de tristeza; 
o Presidente perguntou pelos pobres de Pedro Jorge. 
Um vicentino apresentou então um bilhete do próprio punho deste, 
em que eram dadas as indicações precisas. 
A letra era quase ilegível, 
pois o corpo já estava invadido pela paralisia 
que iria acabar de o vitimar dentro de horas; 
mas atestava bem como o seu pensamento acompanhava a Conferência 
e os pobres até à morte. 
Esse bilhete, conservado como relíquia, 
ficou servindo de marcador no livro das actas da Conferência.
A doença atacara subitamente aquele organismo de ferro: 
fora em 30 de Junho de 1925, ao regressar do rio, 
onde fora remar, que sentira uma dor nos rins. 
Pedro Jorge gracejou, dizendo estar a precisar 
de se retemperar com o ar das montanhas; 
tinha, de facto, marcada uma ascensão a dois picos dos Alpes, 
para o dia 4 de Julho (2). 
Nesse mesmo dia fazia maior ascensão: subia ao Céu, 
onde piedosamente cremos que está a tomar parte 
na Conferência de que fala Ozanam, após tão bela vida 
e tão resignada agonia, com aceitação plenamente consciente 
do sofrimento e sacrifício da vida.
«Pedro Jorge, como a tua alma está bela»! 
«Jesus quer-te tanto!» — dizia-lhe o sacerdote que acabava 
de lhe ministrar os últimos sacramentos, e acrescentava: 
«Tinha um ar celeste».
Se foi grande o bem que dele irradiou em vida, 
maior se tornou ainda a sua influência nos meios juvenis para além da morte: 
foi preciso que o grão morresse para germinar.
«Pedro Jorge teria feito assim», pensam ainda hoje os rapazes, 
contagiados pelo seu luminoso exemplo. 
E assim, como diz o seu biógrafo, eterno no Céu, 
imortal também na terra, com a graça do seu auxílio e da sua intercessão.

 a quem o grande teólogo Karl Rahner dedicou as seguintes palavras:
“Frassati representava o jovem cristão puro, alegre, dedicado à oração,
aberto a tudo o que é livre e belo, atento aos problemas sociais,
que trazia no coração a Igreja e os seus destinos”
(Karl Rahner. Cf. Maria Di Lorenzo, Pier Giorgio Frassati.
O amor nunca diz: “Já chega!”, Lisboa, Paulinas, 2003, p. 133).
Amados irmãos: estes e outros bem-aventurados
nos guiarão no presente ano pastoral, em torno da família e da juventude,
que eles tão exemplarmente figuraram.
Com eles saberemos motivar as nossas famílias
e jovens, nas comunidades e nas escolas,
para continuarem a ser resposta de Deus ao mundo.
- Em Cristo e nos que vivem em Cristo está tal resposta,
como sempre e esplendidamente esteve!
Importa então recebê-la, para a prolongar agora.
E aqui nos encontramos – imprescindivelmente nos encontramos! –
com Maria Santíssima, Mãe de Cristo e da Igreja,
magnífico modelo de nós todos no acolhimento da Palavra divina
e na sua transmissão ao mundo.
Celebrámos ontem a Natividade da Virgem Maria,
nove meses depois da sua Imaculada Conceição,
que de novo teremos em Dezembro. Virão depois o Natal de Cristo,
que por Ela aconteceu, e Santa Maria Mãe de Deus,
para começarmos religiosamente o novo ano civil…
Proponho-vos instantemente, amados irmãos e irmãs,
que não deixeis passar nenhuma destas
e outras datas litúrgicas sem aprofundardes criativamente
a necessária dimensão mariana da existência cristã,
particularmente com as famílias e os jovens.
Estou certo e certíssimo de que o acolhimento filial
e confiante da Mãe de Cristo – da Mãe que Ele mesmo
nos deu ao pé da Cruz -  é condição básica para
a compreensão profunda e o seguimento certo do Evangelho eterno.
- E, como foi no Cenáculo, com Maria e os discípulos
a inaugurarem a primeira evangelização,
assim será agora, com Ela sempre, justamente proclamada 
“Estrela da Nova Evangelização”!
+ Manuel Clemente
Sé do Porto, 9 de Setembro de 2011

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