quinta-feira, 21 de junho de 2012


                                     O GESTO DA PAZ

A Reforma geral da Liturgia, aprovada e decretada pelo II Concílio Ecuménico do Vaticano, não foi, propriamente, uma inovação, mas, 
com muito mais propriedade, um regresso às fontes.
Uma atitude consciente e prudente da Igreja que sempre colhe da sua Tradição, coisas novas e velhas.
De facto, antigos livros e documentos litúrgicos que a ciência 
e a paciência dos estudiosos tinham arrancado ao pó do esquecimento, 
referiam e davam-nos, com surpresa (?) 
a imagem de uma assembleia litúrgica viva e participante.
E, os trabalhos do Movimento Litúrgico, iniciado nos a1vores do séc. XX, 
foram, indubitavelmente, a preparação remota do Concílio. 
Enfim, o “produto final” da reforma, concretizado no Missal de Paulo VI, 
é, por isso, bem mais”tradicional”( para gáudio dos tradicionalistas!) 
do que o seu predecessor de Trento, 
recuperando va1iosos elementos celebrativos que, 
no decorrer dos séculos, ou tinham sido suprimidos ou ficado obscurecidos. 
Basta referir 
a estrutura geral da celebração, 
a homilia, 
a oração dos fiéis, 
a unidade da oração eucarística, 
o gesto da paz... 
A aplicação, contudo, nem sempre foi a mais correcta, 
porque aqui e ali foi demasiado apressada e, 
naturalmente, superficial.
Concretamente, o rito da paz, 
situado entre os ritos de preparação da Comunhão, 
antes da fracção do pão, consta de uma oração pela paz 
e unidade da Igreja dita em voz alta pelo Sacerdote 
e de uma saudação que ele dirige à assembleia. Depois, 
se for oportuno (cfr. Insrrução geral do Missal Romano, 
nomeadamente n° 154), convida todos os fiéis a saudarem-se 
entre si comum gesto recíproco, 
expressivo do mesmo dom de Cristo Ressuscitado. 
Este gesto obteve, em muitos lados, uma adesão entusiástica, 
mas também suscitou, por vezes, algum constrangimento entre os fiéis. 
Com efeito, facilmente como se verifica hoje, ainda, na prática, 
foi desvalorizado, em mero gesto social. 
Isto aparece patente nos cânticos que arbitrariamente, 
se entoam, 
ampliando um gesto que deveria ser sóbrio e, 
como tal, 
não é acompanhado de canto ou música. 
Ta1vez se possa recuperar o seu sentido verdadeiro, 
com a1guma oportuna catequese.
Para tal, o importante que se corrijam certos excessos 
e desacertos que nascem de uma errada ou deficiente compreensão da razão de ser e do sentido deste gesto. 
E que pensar do espectáculo pouco edificante de certas celebrações nupciais?
Enfim, basta atentar na inflação( e aflição!)
a que se assiste, em algumas celebrações, 
quando alguns devotos procuram “cumprimentar” individualmente o maior número possível de fiéis presentes, 
multiplicando deslocações descabidas, 
gerando a sensação errada de que foí para isso que ali vieram, 
esquecendo que se trata, tão só, 
de um simples e importante momento de preparação para a comunhão, 
ponto culminante desta parte da Missa.
Sejamos claros:  
o rito da paz não é o “momento social” da Missa
nem esta pode perder nunca o seu carácter religioso ou sagrado. 
Para os cumprimentos, 
venham mais cedo 
ou fiquem para o fim da Missa, 
pois que, para isso, são os adros das nossas igrejas, 
ou outros espaços disponíveis. 
Pelo contrário, fazendo parte dos ritos da comunhão, 
o gesto da paz é libertado de qua1quer reducionismo horizontalista. 
Na verdade é Cristo que fundamenta e postula a comunhão fraterna, 
e é na “Paz de Cristo” ressuscitado (cf. Lc. 24, 36) 
que os irmãos se reconhecem e saúdam.
Não é necessário, nem conveniente, 
que todos saúdem a todos: para a verdade do sina1 basta que, 
cada um, saúde com sobriedade, simpatia e cortesia, quem está junto a si. 
E, assim, sem sair do seu lugar, pela mediação do próximo, 
saudará também os mais distantes e paz que o Senhor nos deu e deixou, 
nos recolherá a todos no Seu amor.
DA VOZ PORTUCALENSE

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