O GESTO DA PAZ
A
Reforma geral da Liturgia, aprovada e decretada pelo II Concílio Ecuménico do
Vaticano, não foi, propriamente, uma inovação, mas,
com muito mais propriedade,
um regresso às fontes.
Uma
atitude consciente e prudente da Igreja que sempre colhe da sua Tradição,
coisas novas e velhas.
De
facto, antigos livros e documentos litúrgicos que a ciência
e a paciência dos
estudiosos tinham arrancado ao pó do esquecimento,
referiam e davam-nos, com
surpresa (?)
a imagem de uma assembleia litúrgica viva e participante.
E,
os trabalhos do Movimento Litúrgico, iniciado nos a1vores do séc. XX,
foram,
indubitavelmente, a preparação remota do Concílio.
Enfim, o “produto final” da
reforma, concretizado no Missal de Paulo VI,
é, por isso, bem mais”tradicional”(
para gáudio dos tradicionalistas!)
do que o seu predecessor de Trento,
recuperando va1iosos elementos celebrativos que,
no decorrer dos séculos, ou tinham
sido suprimidos ou ficado obscurecidos.
Basta referir
a estrutura geral da
celebração,
a homilia,
a oração dos fiéis,
a unidade da oração eucarística,
o
gesto da paz...
A aplicação, contudo, nem sempre foi a mais correcta,
porque
aqui e ali foi demasiado apressada e,
naturalmente, superficial.
Concretamente,
o rito da paz,
situado entre os ritos de preparação da Comunhão,
antes da fracção
do pão, consta de uma oração pela paz
e unidade da Igreja dita em voz alta pelo
Sacerdote
e de uma saudação que ele dirige à assembleia. Depois,
se for
oportuno (cfr. Insrrução geral do Missal Romano,
nomeadamente n° 154), convida
todos os fiéis a saudarem-se
entre si comum gesto recíproco,
expressivo do
mesmo dom de Cristo Ressuscitado.
Este gesto obteve, em muitos lados, uma
adesão entusiástica,
mas também suscitou, por vezes, algum constrangimento
entre os fiéis.
Com efeito, facilmente como se verifica hoje, ainda, na
prática,
foi desvalorizado, em mero gesto social.
Isto aparece patente nos
cânticos que arbitrariamente,
se entoam,
ampliando um gesto que deveria ser
sóbrio e,
como tal,
não é acompanhado de canto ou música.
Ta1vez se possa recuperar
o seu sentido verdadeiro,
com a1guma oportuna catequese.
Para
tal, o importante que se corrijam certos excessos
e desacertos que nascem de
uma errada ou deficiente compreensão da razão de ser e do sentido deste gesto.
E que pensar do espectáculo pouco edificante de certas celebrações nupciais?
Enfim, basta atentar
na inflação( e aflição!)
a
que se assiste, em algumas celebrações,
quando alguns devotos procuram “cumprimentar”
individualmente o maior número possível de fiéis presentes,
multiplicando
deslocações descabidas,
gerando a sensação errada de que foí para isso que ali
vieram,
esquecendo que se trata, tão só,
de um simples e importante momento de
preparação para a comunhão,
ponto culminante desta parte da Missa.
Sejamos
claros:
o rito da paz não é o “momento social” da Missa,
nem esta pode perder
nunca o seu carácter religioso ou sagrado.
Para os cumprimentos,
venham mais
cedo
ou fiquem para o fim da Missa,
pois que, para isso, são os adros das
nossas igrejas,
ou outros espaços disponíveis.
Pelo contrário, fazendo parte
dos ritos da comunhão,
o gesto da paz é libertado de qua1quer reducionismo
horizontalista.
Na verdade é Cristo que fundamenta e postula a comunhão
fraterna,
e é na “Paz de Cristo” ressuscitado
(cf. Lc. 24, 36)
que os irmãos se reconhecem e saúdam.
Não
é necessário, nem conveniente,
que todos saúdem a todos: para a verdade do
sina1 basta que,
cada um, saúde com sobriedade, simpatia e cortesia, quem está junto
a si.
E, assim, sem sair do seu lugar, pela mediação do próximo,
saudará também
os mais distantes e paz que o Senhor nos deu e deixou,
nos recolherá a todos no
Seu amor.
DA VOZ PORTUCALENSE
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