segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Deixou-nos um Homem Bom! Um Coração de Ouro! Um Sábio Professor e Mestre Partiu !!!

Deixou o Mundo Melhor
Do que o encontrou!
(Foto do Semanário Correio da Feira de 29 de Agosto de 2011)
DESAPARECIMENTO PRECOCE DE 
UMA DAS GRANDES FIGURAS DA CULTURA SANTAMARIANA
EXCERTO DO SEMANÁRIO  CORREIO DA FEIRA
de 29 de Agosto de 2011
( Com a devida vénia)
“O nosso professor Baltazar”
ROBERTO CARLOS
Baltazar Oliveira, nasceu na freguesia de Escapães em 23 de Outubro de 1949
e faleceu vítima de doença prolongada em 26 de Agosto de 2011.
Ingressou como docente de Trabalhos Manuais no ano lectivo de 1968/69 na Escola Preparatória de Ovar. 
Seguiu-se S. João da Madeira. No ano de 1973 cumpriu o Serviço Militar em Angola. Regressou para leccionar na Escola Preparatória Henrique Veiga de Macedo (hoje actual nº 2 da Feira. Seguiram-se as Escolas Preparatórias de Matosinhos, S. João da Madeira, Oliveira de Frades, novamente Feira, Paços de Brandão e desde 1993/94 EB 2/3 Fernando Pessoa até se aposentar em 1 de Abril de 2003.
Desde cedo ligado ao tecido associativo, que muito lhe era querido, serviu instituições como a Terça-feira, o C. C. R. Orfeão da Feira (CCROF), o C. D. Feirense, a Tuna dos B. V. S. João da Madeira, a Confraria da Fogaça, a Associação de Artesãos das Terras de Santa Maria, o e B. V. Feira (membro da Direcção e Bombeiro) entre outras. Foi autarca no executivo presidido por Horácio Sá.
Conheci o Professor Baltazar na Escola Preparatória hoje EB 2/3 Fernando Pessoa na disciplina de trabalhos manuais (velhos tempos), onde cada aluno construía os seus próprios jogos de damas e xadrez, as raquetes de ping-pong, as miniaturas do castelo, etc. e  também incentivava à participação por exemplo nas Mini-Olimpíadas, fazendo jus a mens sana in corpore sano.
Mais tsartde os caminhos cruzaram-se na Orquestra Ligeira doo Orfeão da Feira, com o professor Baltazar a assumir desde logo, a dinamização do projecto cujo núcleo inicial integrou as violinistas Susana Fernandes e Carla Barros, seguindo-se Saudade Campos e Mafalda Campos. Dentre os elementos masculinos, refira-se o Luís Paranhos e Rui Ferreira. Dirigia o jovem maestro Rui Ferreira; nos concertos públicos, a apresentadora era Luísa Figueiredo, sendo eu próprio produtor de som e de luz, e o responsável pela comunicação da Orquestra. Recordo o quanto o Professor Baltazar era avesso às luzes da ribalta, preferindo o trabalho de apoio, tão importante como ir buscar músicos ao Vale, a Louredo ou a Loureiro para os ensaios e para os espectáculos.
Ainda no âmbito do trabalho desenvolvido no CCROF por Baltazar Oliveira, destaco a criação do primeiro ATL da Feira (Actividades Tempos Livres), numa lógica de intervenção comunitária, e consequentemente o enriquecimento e divulgação cultural das crianças participantes.
Como autarca dinamizou um conjunto de actividades culturais, promovendo o Presépio de Natal da Cidade, a geminação com Santa Maria da Feira de Beja e incentivou as Férias Desportivas.
Como artista, desde cedo que o professor Baltazar Oliveira, se dedicou à escultura concebendo medalhas comemorativas (por exemplo a do XXXVIII Congresso dos Bombeiros e do Bi-Centenário das Invasões Francesas), moedas de recriações his- tóricas (quantas vezes conversámos sobre o tipo de moeda adaptado a um determinado reinado), estátuas, troféus; bustos, monumentos, castelos, pratos comemorativos... enfim uma infindável lista de peças artísticas que estão nas mãos de milhares portugueses. Quem não se recorda das conversas infindáveis sobre as questões da cidade do concelho e da cidade em ambiente de tertúlia, em que, de repente estava já a rabiscar o esboço de uma medalha ou de um monumento num guardanapo de papel?
Nunca deixava de colaborar com todas as instituições que lhe batiam à porta, mesmo que isso lhe trouxesse prejuízos materiais.
Os seus trabalhos estão  dispersos um pouco de Norte a Sul. Em S. João da Madeira, deixa-nos o “Monumento ao Sapateiro’ colocado na rotunda da Praça 25 de Abril; o Monumento “Unhas Negras’ junto ao Museu da Chapelaria; o Monu- mento à “Mulher Sanjoanense’ situado nos jardins da Praça Barbezieux e a estátua “João Paulo II’ todos naquela cidade vizinha.
No Concelho da Feira, destaco o Monumento aos “Dadores de Sangue’ em frente ao hospital de S. Sebastião, na sede do concelho. Segundo o escultor “Os pilares representam a força de toda uma população, cuja grandeza espiritual fez nascer 38 locais de recolha, susceptíveis de aumentar nas 31 freguesias do concelho, representadas pelas camadas de blocos sobrepostos, que tornam o pilar da direita, traduzindo a estrutura cívica, altruísta do seu povo. O pilar da esquerda simboliza a Associação de dadores, enquanto corpo, como invólucro do espírito que sem sangue, morre” Estes dois pilares fazem um ângulo entre si, num abraço/convite a todos aqueles que querem continuar a agradecer e a fortalecer a dádiva benévola de sangue.
O valor do sangue — garante da própria vida — é posto em relevo pelo tubo que simboliza veia humana, e pela gota, que representa o sangue. Dominado a parte central do monumento, o coração simboliza as gentes do concelho de Santa. Maria da Feira, que, dando recebem a maior das dádivas: a vida, condensada no tubo de ensaio, cujo conteúdo é constante, mas renovável, graças á generosidade dos dadores benévolos de sangue de Santa Maria da Feira’
Outro que salientamos é o Monumento da Cerci-Feira, que revela a imagem da criança e o envolvimento de toda a sociedade “no abraço permanente, que foca a solução para muitos problemas. Segundo o escultor “através do Estado, a Cerci presta apoio a essa mesma criança, com a intenção que ela tenha um mundo melhor. A cabeça da criança, no monumento, é o mundo. Evoca, ainda, os 25 anos da instituição e a ideia da Cerci em levar a criança até ao fim, sem abandoná-la em momento algum, dado que os pais não estão presentes’ releva.
Destaco ainda o Monumento ao Ciclista em S. João de Ver, lembrando a angústia permanente do escultor para conceber o Monumento ao Ciclista, num concelho com seis vencedores da Volta a Portugal e largas dezenas de campeões, mas cujo resultado final se traduz numa expressão que simboliza o esgar de dor, a dedicação, o sacrifício, quando o ciclista sobe, por exemplo, a etapa mais exigente da montanha.
Da sua autoria temos ainda o busto de Carlos Ferreira Soares que integra um monumento da autoria de Jorge Oliveira em Nogueira da Regedoura. Foi descerrado por Almeida Santos em 6 de Julho de 2009, 67 anos depois de Carlos Ferreira Soares ter sido alvejado com 14 balas, pela PIDE. O Busto que perpetua memória do médico Carlos Ribeiro, nas Caldas de S. Jorge, numa homenagem nos 34 anos da sua morte, em 6 de Setembro de 2009, é outra das obras existentes no Concelho da Feira.
Para além destas obras, existem monumentos da sua autoria em muitos Quartéis de Bombeiros do nosso País e respectivas cidades, sendo exemplo disso Pombal, com
o Monumento aos Bombeiros, um memorial que fica para os tempos vindouros, como traduz a inscrição registada no Monumento: “Homenagem às gerações passadas, presentes e futuras”
Numa entrevista publicada por este Jornal na edição 5728 de 01 de Agosto deste ano, o Professor Baltazar salientava que “em tempo de dificuldades para muitas famílias, só no concelho da Feira há mais de 9 mil pessoas sem emprego, Baltazar Oliveira apelava à união., “Fui sempre um animador social. E, já, uma vida ao lado das associações. Preocupa-me o futuro das associações culturais. Se entrarem numa paragem de realizações, se reduzirem as suas actividades, temo que isso seja mau para muitas pessoas do concelho’
No fundo, considerava que indubitavelmente movimento associativo é “crucial para quebrar os problemas que as pessoas trazem dos empregos, as obrigações de todos os dias.
As casa abertas da cultura feirense servem para convívio, para desabafar, para os feirenses se soltarem e deitarem cá para fora o que os aflige. Nem sempre valorizamos a importância das colectividades, mas elas são cruciais e espero que nada disso seja posto em causa, no futuro, pelas dificuldades financeiras”.
Exemplos disso mesmo, são as escolas de música, os grupos corais, as associações desportivas, os ranchos, os escuteiros. “Quanto mais olhamos para trás e analisa-mos os nossos erros, melhor vivemos no futuro. Não podemos entrar na onda do pessimismo, de rostos deprimidos, angustiados, tristes. Há que dar as mãos, como mostro no monumento dos Dadores de Sangue. Em todos os trabalhos, deixo uma mensagem, que faça interrogar as pessoas’ garante Baltazar Oliveira. Actualmente era membro da Comissão Organizadora do Centenário do Orfeão da Feira, sendo o autor do Monumento evocativo da efeméride.
Tinha em mente um espaço intergeracional, no qual crianças, jovens e seniores pudessem desenvolver actividades e profissões já desaparecidas ou em vias de desaparecer.
Apesar desta figura Santamariana ser avessa a homenagens, consideramos que o Professor Baltazar, merecerá uma homenagem póstuma, nem que seja com uma simples referência na Toponímia da Cidade que tão bem serviu.

 “Defendia com unhas e dentes tudo aquilo em que acreditava”
ÂNGELO PEDROSA
 O comandante Eduardo Neves privou, durante anos, com Baltazar Oliveira, nos Bombeiros Voluntários da Feira. “Ele serviu a esmagadora maioria das associações, instituições, não só da sede do concelho. Em boa hora a direcção liderada por Alcides Branco chamou-o para director dos bombeiros”, diz.
Pouco tempo passou, mas para o “professor Baltasar, era sim que era tratado, já não chegava ser director. Ele quis vestir a farda de bombeiro e vestiu-a com muita honra e honrou a instituição”, acrescenta.
Pessoa simples e que “sempre cativou pelas atitudes”, defendia “com unhas e dentes tudo aquilo em que acreditava. No caso dos Voluntários da Feira, ele assumiu-se, quase, como um embaixador da instituição junto das pessoas que não conheciam o nosso trabalho. Sempre defendeu, com unhas e dentes, todos aqueles que envergavam a farda de bombeiro e quem se dedica a proteger as populações das freguesias do nosso concelho’ ressalva.
Há situações que “jamais vou esquecer. Momentos passados, também, com o comandante Marques, o adjunto Teixeira, o adjunto Dr. António Pinho que marca- ram profundamente e que revelaram o que era o professor Baltazar e a forma como ele servia as casas por onde passava”.
Em várias ocasiões, a última na gala do centenário, o Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira “tentou homenagear o professor Baltasar, mas ele não compare- ceu, porque nunca procurou protagonismos. Sentia-se feliz por aquilo que fazia. A sua simplicidade, humildade, fazia com que não gostasse daqueles momentos de glória e de agradecimento. A sua alegria era interior e preferia ficar longe dos holofotes da visibilidade”, releva Márcio Correia, presidente da direcção do Orfeão.
Trata-se de um “grande feirense, um homem que conheci desde que nasci. Muitos leitores não sabem, mas era vizinho dele. Desde muito pequeno que assisti às suas construções, às suas ideias. Para quem não conhece, o professor Baltazar pegava num famoso guardanapo de café, onde desenhava grande parte dos monumentos, que hoje orgulham a nossa cidade, o nosso concelho e outros municípios da região”.
Em “momento algum esqueço que este feirense foi um dos maiores responsáveis pelo gosto que hoje tenho pelo movimento associativo, porque ele nasceu e viveu para o nosso concelho. Sempre transmitiu uma dedicação, um olhar pelas coisas que se passaram em Santa Maria da Feira e alguém opinava, de forma construtiva, pelos assuntos do concelho”, acrescenta o presidente da direcção da instituição que se encontra a comemorar 100 anos de existência.
No funeral, realizado anteontem a partir da Misericórdia, não faltaram os autarcas de Santa Maria da Feira de Beja, pela ligação que sempre foi mantida com o professor Baltazar Oliveira.
Testemunho do Senhor Presidente da Câmara de Santa Maria da Feira
o Senhor Alfredo Henriques.
LAMENTO A PERDA PARA O CONCELHO
Convidado pelo Correio da Feira a pronunciar-se acerca do desaparecimento do Prof. Baltazar, Alfredo Henriques recordou o vizinho escapanense “que conhecia desde criança. Teve sempre um papel activo em Escapäes. Depois, com o casamento, mudou-se para a sede do Concelho, alcançando então uma maior projecção social e cultural a partir daí’. Frisando ainda as qualidades auto-didácticas que se repercutiram no movimento associativo, declarou que “era uma pessoa muito dedicada ao Ensino e um autodidacta que se afirmou. Creio que a maioria das associações do Concelho lhe devem muito, porque ele estava sempre pronto para colaborar”, acrescentou.
Num plano institucional, o presidente da câmara sublinhou “o valor do trabalho de dedicação do Prof. Baltazar ao movimento associativo, em claro benefício para a cultura concelhia”.

MEMÓRIA E RECONHECIMENTO
(ainda  do Semanário Correia da Feira de 29 de Agosto de 2011)
Poucos a conheciam como Baltazar da Silva Oliveira, mas referir, tão só, “Professor Baltazar”, era a chave para entrar no universo de um homem da cultura, multifacetado e sensível, que, como escultor deixa obra pública por toda a região.
Figura carismática e incontornável do movimento associativo, o escapanense também se envolveu na vida autárquica, com passagem assinalada pelo executivo da Junta de Freguesia de Santa Maria da Feira. Sempre cordato, era um conciliador, por excelência, espécie de dissuasor de tensões que levava para o seu relacionamento publico boa parte da matriz afectiva com que marcava os seus alunos, de quem era amigo; às vezes, confidente... O Município, a Cidade a Escola e o movimento Associativo, contraíram uma dívida para com a memória do “Professor Baltazar”. E se esta é, no todo, impossível de pagar, pode (e deve ser assumida e honrada.
À Família enlutada, o “Correio da Feira”expressa as mais sinceras e respeitosas condolências.
 “Fui sempre um animador social”
Figura do movimento associativo, conhecido pela criatividade e capacidade de trabalho, o escultor Baltazar Oliveira procurava sensibilizar a comunidade, em cada desafio que abraçava. Cada trabalho era feito a pensar nas gerações futuras de Santa Maria da Feira...
Convidado a pronunciar-se sobre os trabalhos que tem patenteados no Concelho, começou por explicar a filosofia do monumento da Cerci-Feira, falando da “imagem da criança e do envolvimento de toda a sociedade no abraço permanente, que foca a solução para muitos problemas. Só o conseguimos com esse esforço colectivo, sem deixar ninguém de fora”, constata então. “O trabalho mostra a família e a comunidade que a rodeia. Através do Estado, a Cerci presta apoio aquela mesma criança, com a intenção que ela tenha um mundo melhor. A cabeça da criança, no monumento, é o mundo. Evoca, ainda, os 25 anos da instituição e a ideia da Cerci em levar a criança até ao fim, sem abandoná-la em momento algum, dado que os pais não estão presentes”, releva ainda.
Define como “marcante” a mensagem conduzida pelo Monumento da Associação de Dadores Benévolos de Sangue, colocado próximo do Hospital de S. Sebastião.
Constituído por dois pilares, formados por dois blocos de cimento
armado, cobertos com placas de granito e aparentemente separados um do outro, o da esquerda, representa o corpo da associação, e o da direita, representa os dadores. Na parte superior do monumento erguido aos dadores de sangue feirenses, passa um tubo em “inox” com quatro metros de comprimento, que serve de eixo à rotação da gota, e suporte da simbólica luz vermelha presente na extremidade superior.
A meio, o espaço alarga-se para albergar uma peça escultórica rotativa, em bronze, que representa uma gota, tendo, no seu interior, um coração com o mapa do Concelho e, na face oposta, o nome das freguesias, envolto em duas mãos, também em bronze, num gesto de dar e de receber.
A Associação tem núcleos nas 31 freguesias do concelho e desenvolve um trabalho ímpar no país. Em 2010 voltou a registar o maior número de presenças, no cômputo de todas as instituições similares nacionais. O Prof. Baltazar empolga-se:
“Quanto maior foi a participação da comunidade, mais forte é associação”, constata.
Em tempo de dificuldades para muitas famílias, quando só no Concelho da Feira havia mais de 9 mil pessoas sem emprego, Baltazar Oliveira preocupava-se com o futuro do movimento associativo:,”Fui sempre um animador social. É, já, uma
vida ao lado das associações. Preocupa-me o futuro das associações culturais. Se entrarem numa paragem de realizações, se reduzirem as suas actividades, temo que isso seja mau para muitas pessoas do Concelho”, desabafava então.
No fundo, o movimento associativo é “crucial para quebrar os problemas que as pessoas trazem dos empregos, as obrigações de todos os dias. As casas abertas da cultura feirense servem para convívio, para desabafar, para os feirenses se soltarem e deitarem cá para fora o que os aflige. Nem sempre valorizamos a importância das colectividades, mas elas são cruciais e espero que nada disso seja posto em causa, no futuro, pelas dificuldades financeiras”, dizia ele, esperançoso, e apontando exemplos como as escolas de música, os grupos corais, as associações desportivas, os ranchos, os escuteiros... “Quanto mais olhamos para trás e analisamos os nossos erros, melhor vivemos no futuro. Não podemos entrar na ida do pessimismo, de rostos deprimidos, angustiados, tristes. Há que dar as mãos, como mostro no monumento dos Dadores de Sangue. Em todos os trabalhos, deixo uma mensagem, que faça interrogar as pessoas”, garante Baltazar Oliveira.
A terminar, não esquece que o concelho é pródigo em campeões, nas mais diversas modalidades.

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